A nova dinastia de origem Egípcia (a 18ª dinastia) que subiu ao poder inaugurou um longo período de prosperidade e de ordem relativa que durou cerca de cinco séculos. Este período inclui as 18ª, 19ª e 20ª dinastias. Durante o reinado de Ramsés II, que durou 67 anos, o país conheceu o maior período de actividades de construção desde a 4ª dinastia, durante a qual foram construídas as grandes pirâmides. As
descrições das ruínas egípcias dedicam-lhe muita atenção.
descrições das ruínas egípcias dedicam-lhe muita atenção.
A admiração por todas estas construções não nos deve fazer esquecer a 18ª dinastia. Foi a época em que os israelitas viveram no Egipto e, segundo a cronologia bíblica, se evadiram. Um facto memorável: nenhum monarca da 18º dinastia teve filhos varões. Os antigos egípcios não aceitavam mulheres faraós. Para que o país tivesse faraó, os reis desta dinastia viram-se forçados a fazer alianças de casamento particulares. Acontecia, por vezes, o marido pertencer à mesma família que a esposa, o que originou problemas de doenças hereditárias no final desta dinastia.
Hatshepsut.
Segundo a cronologia bíblica (1 Reis 6:1) Moisés nasceu quando este problema tinha atingido o seu apogeu. Tutmósis II, ele próprio de origem humilde, tinha casado com uma princesa, mas procurava desesperadamente uma mulher que lhe desse um filho varão. De outro modo, a sua filha Hatshepsut estaria condenada a casar com um homem do povo. Mas Hatshepsut não se casou e conseguiu, de certa forma, vencer os preconceitos sexistas dos egípcios. Após a morte do seu pai, ela proclamou-se rei (e não rainha!) e apresentou-se com uma barba e com todos os outros atributos de um faraó masculino. Ela foi um dos faraós mais poderosos. Mandou erigir um dos maiores obeliscos do Antigo Egipto, mandou construir um mausoléu de arquitectura muito imponente a Este de Tebas e mandou vir “do corno de África” (A Somália) plantas e animais desconhecidos no Egipto para aquilo a que nós chamaríamos estudos científicos.
Como é que Hatshepsut conseguiu vencer estes preconceitos centenários contra as mulheres e se conseguiu proclamar rei? Este foi um dos feitos mais notáveis da história do Egipto. E é ainda mais importante dado o facto dos sacerdotes, a elite religiosa no Egipto, se terem apressado a propor como novo faraó o jovem filho que Tutmósis II tinha tido com uma concubina. A sua manobra não teve qualquer sucesso e o candidato teve que ser retirar até ao momento em que, muito mais tarde, se tornou um dos mais poderosos monarcas da 18ª dinastia, sob o nome de Tutmósis III.
Como é que Hatshepsut conseguiu enfrentar o poder dos sacerdotes? Ela não o pode ter conseguido sozinha, mesmo que nos seus discursos afirmasse que o seu pai era Amon, o deus de Tebas, como podemos ler no seu monumento fúnebre. Podemos pensar que ela dispunha de um candidato masculino ao trono, em lugar de quem ela reinava temporariamente. É precisamente neste ponto da história egípcia que podemos incluir, de forma lógica, a história de Moisés, tal como a Bíblia no-la apresenta.
Moisés, um resgatado do Nilo.
A Bíblia relata como a princesa egípcia descobriu Moisés num cesto de verga nas águas do Nilo. A mãe de Moisés tinha aptado por esta solução a fim de escapar aos soldados egípcios que tinham recebido ordens para matar todos os meninos hebreus recém-nascidos. A princesa levou Moisés e adoptou-o como seu filho. Porque é que uma princesa egípcia teria tanta pressa em adoptar uma criança como seu próprio filho se não por causa da grande dificuldade que a família real estava a sentir em ter rapazes? Não há, em toda a história do Egipto, qualquer outro período em que o relato do salvamento e da adopção de Moisés seja mais plausível.
A Bíblia indica claramente que Moisés foi educado na corte do faraó depois de ter passado a primeira infância no meio dos Hebreus. A tradição, tal como é relatadas pela história de Flávio Josefo no séc. I d.C., parece bastante lógica ao descrever que Moisés teria sido educado a fim de aceder ao trono quando o momento chegasse. Se era verdade que Hatshepsut tinha um filho adoptivo e que o queria fazer subir ao trono alguns anos mais tarde, é fácil compreender como ela conseguiu vencer os preconceitos existentes contra as mulheres de faraós. Neste caso, ela teria recebido o título de regente. Mas podemos facilmente entender as objecções dos sacerdotes. Moisés não era membro da família real. Nem sequer era realmente egípcio, mas um membro daquele grupo de escravos semitas que eles detestavam, descendente dos Hicsos.
O fim do reinado de Hatshepsut continua envolto em mistério, mas condiz estranhamente com a história de Moisés. Ela desaparece de cena no momento em que Tutmósis III, o candidato sugerido pelos sacerdotes, sobe ao trono. Por que razão desaparece ela subitamente sem resistência? Será possível que as atitudes impulsivas de Moisés tenham contribuído par o seu afastamento? Ao matar o capataz egípcio, ele foi condenado ao exílio e comprometeu o acesso ao trono (Êxodo 2:11-15). Para os sacerdotes, era a ocasião ansiada para colocar à frente o seu candidato.
Não dispomos de nenhum texto egípcio que relate este episódio, nem mesmo de textos que mencionem o nome de Moisés (ele teria provavelmente o nome de Tutmósis ou de Amósis). Talvez o texto que lhe fazia referência tenha sido apagado quando todos os textos contendo o nome de Hatshepsut ou escritos por ela foram sistematicamente destruídos. Mas comparando os dados bíblicos com o que revelam os textos egípcios, chegamos à conclusão de que nenhum outro período da história egípcia concorda tanto com o relato bíblico como este.
Um outro período sugerido por alguns pesquisadores e que poderia corresponder à época de Moisés é o de Ramsés II. Mas Ramsés II tinha muitas mulheres e centenas de filhos. Para além disso, os problemas cronológicos tornam esta hipótese pouco provável.
Os escravos saem do Egipto.
A saída dos Israelitas do Egipto é plausível? É óbvio que os textos hieroglíficos dedicam pouca atenção às derrotas, especialmente se escravos fugitivos forem os protagonistas. Não dispomos de nenhuma menção de cavalos e cavaleiros que tenham perecido no mar Vermelho, nem de nenhum relato de um milagre extraordinário. Dependemos inteiramente de provas indirectas. Um pesquisador chamou a atenção para um texto que parece fazer uma referência indirecta ao Êxodo, enquanto que um outro texto menciona um faraó que pereceu numa batalha que se desenrolava nesta época.
Supunha-se que o milagre do Mar Vermelho – quando as águas se separaram para deixar passar os Israelitas e se voltaram a fechar, afogando assim os Egípcios perseguidores – estivesse ligado a um maremoto causado pela erupção do vulcão Théra, na ilha grega do Sentorini, por volta deste período. No entanto, nenhum indício permite fazer corresponder esta erupção com o período do Êxodo. Além disso, tal quereria dizer que o milagre se teria produzido em qualquer lado nas margens do Mediterrâneo, em vez de no Mar Vermelho, como é especificado na Bíblia (mesmo que a expressão bíblica seja melhor traduzida por “Mar das Canas”, ou dos Juncos, noutros textos este está identificado como Mar Vermelho).
Akenaton e a sua esposa Nefertiti adorando o deus Aton. Esta tendência para o monoteísmo não tornou popular o jovem faraó. |
O sucessor de Amenotep II, Tutmósis IV, mandou gravar a inscrição descoberta entre as patas da esfinge de Gizé, na qual exprime a sua surpresa por se tornar rei, como se não estivesse de todo à espera. Podemos deduzir que ele não era o filho herdeiro. Será possível que o filho herdeiro tivesse morrido antes de aceder ao trono, por causa da décima praga – a morte de todos os primogénitos do país (Êxodo 11)? É de salientar que a cronologia bíblica situa o Êxodo precisamente durante o reinado do pai de Tutmósis IV. Mesmo que se trate apenas de provas indirectas, isto corresponde bem aos dados bíblicos.
“A heresia monoteísta”
Tutmósis IV não reinou muito tempo. Amenotep III sucedeu-lhe. A sua esposa, Tiyi, era de origem muito humilde, mas tornou-se extremamente poderosa e dominou o marido. O seu filho, o rei herético monoteísta Akenaton, parece ter adoptado muitas da ideias da sua mãe. Precisamente nesta época, uns anos depois dos acontecimentos extraordinários do Êxodo, um rei egípcio tornou-se monoteísta. Não se tratava do Deus dos Hebreus, mas sim do deus sol Aton, a quem o rei tentou servir de uma forma que se assemelha muito à piedade dos israelitas (compare, por exemplo, o Canto para Aton, de Akenaton com o Salmo 104). Terá a esposa de Amenotep III tido conhecimento do monoteísmo dos Hebreus e de Moisés no decurso dos acontecimentos dramáticos passados na corte do faraó na época do Êxodo? Será que ela falou disso ao seu filho? Nenhuma prova directa liga os dois acontecimentos, mas a introdução do monoteísmo situa-se precisamente na época em que o Êxodo terá deixado marcas na sociedade egípcia. Trata-se de uma coincidência realmente excepcional.
Não dispomos, portanto, de provas directas no que diz respeito ao Êxodo. Mas as provas indirectas são tão eloquentes, que parece lógico concluir que as descobertas arqueológicas vêm uma vez mais apoiar a Bíblia nessa matéria.
O jovem Tutankamon restabeleceu a adoração de Amon, o deus de Tebas, como religião oficial no Egipto. Tendo o reinado de Tutakamon sido muito curto (9 anos apenas; morreu aos 18 anos), o seu túmulo foi um dos mais pobres de todos os túmulos reais. Em contrapartida, foi o único que os arqueólogos descobriram intacto. Todos os outros já tinham sido violados e pilhados. Os tesouros encontrados no túmulo de Tutankamon impressionam-nos muito. No entanto, as suas riquezas eram provavelmente mais modestas do que as dos outros faraós.
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