26/01/2011

A ESCRAVIDÃO DE ISRAEL NO EGIPTO

Possível itinerário do Êxodo.
A arqueologia esclarece vários aspectos culturais da vida do povo de Israel no Egipto (trataremos num outro tema a chegada do povo de Israel ao Egipto). Os israelitas foram obrigados a fabricar tijolos de argila.
No entanto, a maior parte dos monumentos do antigo Egipto eram construídos em pedra natural. Muitos turistas que visitam o Egipto perguntam como é que se pode conciliar isso com a Bíblia, que afirma que os israelitas foram obrigados a fabricar tijolos. O cinema e os livros de divulgação contribuíram para enraizar a ideia segundo a qual os escravos israelitas trabalhavam e transportavam os grandes blocos utilizados para a construção dos templos e de outros monumentos. Na verdade, mais de 95% dos edifícios egípcios foram construídos com tijolos, e isso ainda acontece actualmente.
Os edifícios construídos com esses tijolos resistiam mal ao tempo. A argila desfazia-se relativamente depressa, sobretudo se a cozedura não tivesse sido feita nas melhores condições. Muitas vezes, os tijolos não eram cozidos num forno, mas simplesmente expostos ao calor do sol.
Fabricantes de tijolos no Egipto.
Um único edifício podia necessitar de várias restaurações ou até de reconstrução no decurso de uma mesma geração. Hoje ainda, o turista pode ver, um pouco por toda a parte no Egipto, paredes e muros que se desagregam. Tudo o que resta da grande cidade de Mênfis, por exemplo, são algumas estátuas e montinhos de tijolos reduzidos a pó. Só os monumentos funerários, como as pirâmides, e os templos foram construídos em pedra natural.
Os israelitas deviam, portanto, participar na construção dos edifícios vulgares do antigo Egipto. Grandes quantidades de terra eram misturadas com palha e água. Esta mistura era deitada em moldes, e seca ao sol. É uma técnica que ainda hoje se pode ver. Cada recanto um pouco protegido tem palha. Imaginamos facilmente os israelitas a recolherem palha suficiente para realizarem o pesado trabalho imposto pelos egípcios (Êxodo 5:10,11).
As pirâmides foram construídas
com blocos enormes de pedra
natural.
Segundo Êxodo 1:11, os israelitas contribuíram para a construção das cidades-armazém Pitom e Ramsés, situadas na parte oriental do delta do Nilo. É também aí que devemos situar o país de Gosen onde viviam, sempre segundo a Bíblia, os israelitas.
As duas cidades foram construídas perto de uma estrada importante que ligava o Nilo ao golfo de Suez, atravessando o Wadi Tumeilat. Esta estrada era a artéria mais importante depois do Nilo. Todas as mercadorias que transitavam do Mar Vermelho para o Egipto passavam por ali. A localização destas cidades-armazém era, portanto, bem escolhida.
Molde de tijolos. Alguns
tijolos levam um selo,
este tem o selo de Ramsés II
Embora seja difícil definir com exactidão quais as cidades antigas que correspondem a Pitom e a Ramsés, as escavações feitas no Wadi Tumeilat permitiram trazer à luz os restos de grandes armazéns que datam aproximadamente desta época. Um grande espaço protegido, destinado à armazenagem temporária das mercadorias, estava rodeado de armazéns cobertos reservados à conservação a longo prazo. Entrava-se neles pelo telhado, para proteger o trigo dos predadores. É muito provável que os israelitas tenham construído esses silos. O que José tinha inventado, com tanto engenho, alguns séculos antes, tornou-se, algumas décadas mais tarde, um elemento importante na escravidão dos seus descendentes. Que ironia!

23/01/2011

AS DEZ PRAGAS DO EGIPTO

Extrato do livro dos mortos. Este livro continha
fórmulas e encantamentos que permitiam
aceder ao além.
Muitas vezes se tem dito que as dez pragas do Egipto eram dirigidas aos deuses egípcios. É verdade que a maior parte das pragas atingia elementos considerados sagrados. No entanto, é difícil encontrar um elemento natural que não fosse venerado num lugar qualquer por alguém. Se as pragas se tivessem destinado a contrariar as crenças dos egípcios, deveriam ser mais numerosas!
As pragas desencadearam-se numa ordem que parecia ter como objectivo perturbar os egípcios tanto física com espiritualmente. A Bíblia indica claramente que os magos egípcios conseguiram imitar as primeiras pragas (ver Êxodo 7:11, por exemplo). Muitos dos textos hieroglíficos têm uma conotação mágica. Isso permite-nos deduzir que a prática da magia era muito vulgar, o que confirma as informações fornecidas pela Bíblia. Um desses textos usados em magia faz lembrar os sonhos que José explicou ao faraó. Nele se lê, por exemplo: “Se, no nosso sonho vemos um grande gato, é um sinal favorável: a colheita será boa.” O faraó viu vacas e não gatos, mas o significado era o mesmo.
O gato era um animal sagrado
no Egipto. A deusa Bastet
era representada sob a essa forma.
Eram frequentemente utilizadas fórmulas de encantamento e de feitiços. Os textos imprecatórios revestiam uma grande importância neste contexto. Escrevia-se o nome de um inimigo num vaso de barro. Depois, esta era quebrada, enquanto se pronunciavam maldições e imprecações. A mensagem era clara: “Que o meu inimigo seja quebrado como este vaso.” O profeta Jeremias executou um ritual semelhante junto às muralhas de Jerusalém (Jeremias 19), mas sem que houvesse um nome escrito na vasilha.
O deus Amon, sob a forma de um carneiro,
à entrada do templo de Carnac.
Em Êxodo 8:16-23, Moisés insiste na necessidade que os israelitas tinham de deixar o Egipto a fim de poderem apresentar sacrifícios ao seu Deus. O faraó sugeriu que oferecessem esses sacrifícios no Egipto. A resposta de Moisés é particularmente interessante: “Se sacrificássemos a abominação dos egípcios perante os seus olhos, não nos apedrejariam eles?” Esta resposta parece estranha, a não ser que compreendamos que, nesta época, a divindade mais importante era Amon, deus de Tebas. Esta divindade era geralmente representada como um borrego ou um carneiro, os animais de predilecção utilizados nos sacrifícios. Sacrificar um animal que representava Amon teria sido uma provocação aberta. Era impensável que escravos ousassem cometer um tal acto blasfematório. Como dizia Moisés, teriam sido imediatamente mortos.

19/01/2011

A ALIANÇA NO SINAI

Monte do Sinai, lugar onde
Deus se encontrou com
Moisés.
O Êxodo menciona muitas alianças, mas refere-se geralmente, de modo direto ou indireto, àquela que foi concluída no Sinai. Ela encontra-se no centro de numerosas passagens proféticas. Durante muito tempo, soubemos muito pouco sobre a natureza das alianças de Israel. Graças às escavações realizadas em território hitita, estamos agora em condições de situar a aliança do Sinai no seu contexto histórico. A fiabilidade da Bíblia é reforçada desse modo. A forma da aliança do Sinai corresponde perfeitamente às alianças que eram feitas na época de Moisés, mas difere radicalmente das alianças mais tardias.
Em todas as alianças feitas no Médio Oriente, em meados do segundo milénio, encontramos seis particularidades que se encontram igualmente na aliança bíblica do Sinai.
Existe, primeiramente, um preâmbulo que menciona os nomes das partes implicadas. Em cada caso, os nomes do monarca ou do regente são indicados. Por vezes, o nome do vassalo é omitido. O preâmbulo bíblico encontra-se em Êxodo 20:2: “Eu sou o Senhor teu Deus.” O nome de Israel, o vassalo, não é mencionado.
Depois do preâmbulo, segue-se o prólogo histórico, citando as razões que motivam a aliança. Nas alianças seculares, encontramos, muitas vezes, longas enumerações. Na aliança do Sinai, o prólogo é bastante conciso: “que te tirei da terra do Egitp, da casa da servidão” (Êxodo 20:2). O poder que Deus tinha manifestado no momento do Êxodo servia de base à Sua relação com Israel, como soberano.
Vêm em seguida os preconceitos que o soberano preserve ao seu vassalo a fim de se assegurar da sua fidelidade. Nas alianças não bíblicas, trata-se de precauções que devem impedir o vassalo de fazer outras alianças, que poderiam ser prejudiciais para o soberano. Os Dez Mandamentos de Êxodo 20:3-17 são, visivelmente, as cláusulas da aliança do Sinai. É de salientar que o primeiro mandamento aborda o mesmo problema que as alianças não bíblicas, a saber, a fidelidade ao Senhor: “Não terás outros deuses diante de Mim.”
Vesão egícia duma alinça entre Ramsés II
e um rei hitita (fim do século 13 a.C.).
O quarto aspeto relaciona-se com o lugar onde a aliança deve ser conservada, assim como as orientações para uma leitura pública regular. O soberano quer ter a certeza de que o vassalo não esquece o conteúdo da aliança. Segundo Êxodo 25:16, os Dez Mandamentos, o coração da aliança, deviam ser conservados na arca Ada aliança. O livro do Êxodo não fala de um preceito regulando a leitura pública; mas Deuteronómio 31:9-13 menciona essa diretiva. Sabemos, além disso, que as leituras públicas tiveram lugar em várias ocasiões.
O papiro Nash, que contém
fragmentos importantes
dos Dez Mandamentos.
Uma aliança era acompanhada por uma lista de testemunhas. Nos exemplos não bíblicos, as testemunhas eram sempre divindades, as do soberano e as do vassalo. Os deuses deviam punir o vassalo se este não respeitasse as cláusulas da aliança. Êxodo 20 não faz qualquer referência a testemunhas. Neste caso, Deus é o soberano; isso não deveria, portanto, espantar-nos. Profundamente monoteístas, os israelitas não desejavam apelar para uma lista de deuses, como faziam as nações vizinhas. Por vezes, os profetas mencionavam testemunhas cósmicas, como “o céu e a terra”, ou “as nações e as regiões litorais”. No entanto, as verdadeiras testemunhas era o próprio Deus (que, mais tarde, testemunhariam muitas vezes contra as más ações de Israel) e o povo que, em Êxodo 24:3, tinha prometido “fazer tudo que o Senhor tinha dito”. Testemunhavam contra si próprios de que tinham recebido os preceitos destinados a conduzi-los no caminho do bem-estar segundo o projeto de Deus. Podiam testemunhar de que tinham ouvido e compreendido os Dez Mandamentos, a essência da aliança.
O último elemento presente nas alianças da Antiguidade é uma série de bênçãos e de maldições. Geralmente, a lista de maldições era mais longa do que a das bênçãos. Em Êxodo 20 não encontramos nem bênçãos nem maldições; só o segundo mandamento parece ir neste sentido. Deus é aí apresentado como sendo um Deus exclusivo, que recompensa a obediência e pede contas em caso de desobediência. Mas, noutros lugares da Bíblia, como em Levíticos
A Lei/Aliança e a Arca.

26 e Deuteronómio 28, encontramos essas listas de bênçãos e de maldições. No centro do discurso encontra-se sempre o Decálogo (os Dez Mandamentos). A obediência a essas leis determina os resultados.
Comparando a aliança do Sinai com as alianças não bíblicas dos povos que viviam no tempo de Moisés, surgem semelhanças evidentes. É perfeitamente claro que estamos em presença de um documento histórico. A estrutura da aliança do Sinai salienta a importância do Decálogo, já que este é o seu centro. Poucos arqueólogos contemporâneos põem isso em dúvida.

13/01/2011

A CONQUISTA DE CANAÃ

Textos encontrados em Deir Alla, no Líbano,
que mencionam o nome de
"Balaão filho de Peor".
Os arqueólogos descobriram indícios eloquentes que testemunham a conquista de Canaã pelos israelitas. Certos elementos dizem respeito a cidades destruídas pelos israelitas. Outros, salientam a instalação de uma nova população. As descobertas arqueológicas colocam-nos diante de um certo número de problemas, mas confirmam, em geral, o relato bíblico.
Os israelitas aproximaram-se da terra prometida pelo lado Este. Rodearam Edom e Moabe, depois atravessaram de Este para Oeste o reino do rei de Siom, o amorreu, perto de Hesbom. Estudos arqueológicos revelaram que não existia praticamente nenhuma cidade ou aldeia na região de Edom e de Moabe na época em que os israelitas a atravessaram. À parte algumas pequenas colónias, este território era principalmente habitado pelas tribos nómadas que viriam a dar mais tarde os reinos edomita e moabita. Os “reinos” que Israel teve de enfrentar a Este não eram, portanto, povos bem estabelecidos. Mas eram suficientemente fortes para poderem recusar a passagem (Números 20).
Balaão, filho de Peor.
Depois de terem destruído Hesbom (uma cidade que ainda não foi encontrada, apesar de haver uma aldeia atual que tem esse nome), os israelitas estabeleceram o seu acampamento na planície do Moabe, do outro lado do Jordão, em frente de Jericó. Foi nessa altura que o rei de Moabe contratou o profeta Balaão, um homem de grande renome, para que maldissesse Israel (Números 22-24). O rei não recuou diante de um pesado investimento financeiro para mandar vir Balaão do norte da Mesopotâmia, mas foi em vão, pois ele não conseguiu pronunciar uma única maldição. Em vez disso, influenciado por Deus, ele abençoou o povo de Israel. Balaão é, com razão, considerado na Bíblia um grande profeta. Uma inscrição amonita, encontrada em Tel Deir Alla, no vale do Jordão, menciona o nome deste profeta. Essa inscrição data do 8º século antes da nossa era, o que salienta a fama do profeta. Alguns séculos depois da sua morte, não só os israelitas, mas também os moabitas, ainda o mencionavam. Embora originário do norte da Mesopotâmia, tudo leva a crer que Balaão foi conhecido durante séculos em todo o território da Síria e da Palestina.
As cidades de Jericó e de Ai.
Escavações em Jericó.
As duas primeiras cidades que caíram nas mãos dos israelitas levantam um problema no plano arqueológico. Em Jericó, não resta praticamente qualquer vestígio de uma ocupação da cidade na época em que os israelitas a atacaram. A Bíblia relata que este lugar teria deixado de ser habitado até ao 9º século, quando Jericó foi reconstruída no reinado de Acab (1ª Reis 16:34). Podemos imaginar que os vestígios da antiga Jericó tenham estado expostos a uma forte erosão durante mais de 500 anos, provocando assim o desaparecimento da antiga cidade do tempo de Josué. As ruínas da muralha de grande espessura descoberta em Jericó são anteriores, em alguns séculos, a Josué.
Crânio encontrado em
Jericó.
A segunda cidade conquistada por Josué foi Ai. Antes da época de Abraão, Ai era uma das grandes cidades, talvez mesmo a cidade mais importante da Palestina. Durante séculos, esta cidade esteve em ruínas (daí o seu nome, que significa “ruínas”) e, provavelmente, não era habitada quando os israelitas começaram a sua conquista de Canaã. Depois da invasão dos israelitas, uma pequena aldeia foi rapidamente construída no lugar de Ai. Certos arqueólogos situam a conquista de Canaã muito mais tarde. Pensam que a pequena colónia corresponde à cidade destruída por Josué. Esta hipótese apresenta demasiadas incoerências para ser levada a sério. Outros evocam uma confusão entre Ai e Betel, uma cidade vizinha.
Primeira fase da conquista.
Vestígios de um pequeno
santuário em Ai.
Tanto os dados arqueológicos como os bíblicos parecem sugerir uma conquista do país em duas fases. Houve, inicialmente, alguns ataques-relâmpago no centro, para sul e para norte do país. Os exércitos foram vencidos mas as cidades não foram destruídas. Os israelitas não se instalaram nos territórios vencidos, mas voltaram para o seu quartel-general em Gilgal. Podemos fazer uma ideia desses ataques-surpresa ao lermos a história de Gideão que expulsa os Midianitas. A única cidade destruída durante esses raides foi Hazor, no extremo norte. Esta cidade, a maior da Palestina, era o centro da aliança dos reis cananeus que Israel teve de enfrentar. Não resta qualquer dúvida acerca da destruição total de Hazor. Mas esta cidade cananeia foi muito rapidamente reconstruída e a vida recomeçou aí até ela ser destruída de novo dois séculos mais tarde, provavelmente na altura da batalha comandada por Débora (Juízes 4 e 5). Depois disso, Hazor deixou de ser habitada pelos cananeus.
Segunda fase da conquista.
Moedas encontradas em Siquém.
A segunda fase da conquista dos país teve lugar depois de cada tribo israelita ter recebido a sua herança. As tribos dirigiram-se cada uma para o seu território e tentaram instalar-se nele. Quanto mais aumentava o seu poder, mais domínio e controlo tinham de região que lhes estava atribuída, até que os cananeus foram expulsos. Depois de ter terminar a primeira fase da sua conquista, os israelitas reuniram-se em Siquém, a norte de Jerusalém, a fim de aí renovarem a aliança. Jacob, o seu pai, tinha adquirido um campo nesta região. Um bom número de arqueólogos pensa que a população dos arredores era aparentada com os israelitas, vindos do Egitp. Isso explicaria a razão por que estes últimos iam logo que possível para esta zona. Ali encontravam, com efeito, os seus aliados naturais. Seja qual for a razão, a Bíblia não menciona nenhuma destruição da cidade pelos israelitas nem sequer uma batalha contra os seus habitantes. As escavações feitas em Siquém não revelaram qualquer vestígio de destruição. Muito pelo contrário, tudo leva a crer que esta cidade vivia em paz na época da conquista. Mais uma vez, as descobertas arqueológicas apoiam e confirmam os dados bíblicos.
No momento do grande encontro do povo de Israel, seis tribos reuniram-se nas encostas do monte Gerizim (a sul da cidade) e repetiram as bênçãos ligadas à aliança. As outras seis tribos tinham ocupado o monte Ebal (a norte de Siquém) e recitavam as maldições. Desse modo, eles recordavam a solene aliança feita com Deus quarenta anos antes no Sinai.
As cartas de Tell El Amarna.
Carta encontrada em Tell
El Amarna. Contém um pedido
contra os "habirus".
No inicio do século 20, foram descobertas no Egito, perto de Amarna, placas de argila muito interessantes, datadas do século 14 antes da nossa era. Amarna era a capital do rei herético Akenaton. Estes textos, chamados as cartas de Amarna, provinham de reis e funcionários da cidades-estados da Palestina e da Síria e eram dirigidas ao faraó do Egipto. Essas cartas ilustram perfeitamente a situação na Palestina e da Síria e eram dirigidas ao faraó do Egito. Essas cartas ilustram perfeitamente a situação na Palestina na época da conquista do país pelos israelitas. No entanto, o nome de Israel, que, segundo a cronologia bíblica, tinha começado, nesse momento, a segunda fase da conquista, não é mencionado. Mas é citado um outro nome: os habirus, palavra que se assemelha bastante à palavra “hebreus”. Nestes textos, a designação habiru indica muitas vezes um grupo étnico que não pertencia à população local dessas cidades-estados. Transmite a ideia de rebeldes e de pessoas sem raízes, que erravam pela região, e que representavam um perigo real para a paz. Não se trata, portanto, de um termo que indique uma nacionalidade, mas sim um estatuto social.
2ª carta encontrada em
Tell El Amarna.
O uso deste nome corresponde ao uso, feito no Velho Testamento, da designação “hebreus”. Este nome só era utilizado quando se mencionava um israelita que tinha mantido contactos com as pessoas da cidade ou com membros de uma sociedade bem estabelecida. É muito provável que, inicialmente, o nome “hebreu” se relacionasse com o estatuo social dos israelitas no momento em que penetraram em Canaã pela primeira vez. Talvez outros grupos tenham recebido o mesmo nome, mas os israelitas representavam o grupo mais importante e cujo êxito era evidente. Por conseguinte, não é de estranhar que o rótulo “Hebreus” lhes tenha ficado associado.
É, portanto, muito difícil afirmar, com uma certeza absoluta, que os israelitas foram realmente os habirus mencionados nas cartas de Tell El Amarna. É provável que se tratasse de vários grupos, entre os quais os israelitas. Resta-nos salientar que o rei cananeu que mais vezes é chamado “habiru” (quando escreviam ao faraó, os diferentes reis não hesitavam em insultar-se uns aos outros, e “habiru” fazia parte deste vocabulário) é precisamente o rei de Siquém. Parece que era ele que, com mais frequência, manifestava um comportamento rebelde. Mas se nada prova que os israelitas o tenham apoiado nessa sua rebelião, temos de reconhecer que essa hipótese é atraente, quando comparamos o relato bíblico com as indicações que a arqueologia nos fornece.
A arqueologia não fornece grande quantidade de informação a respeito da época do Êxodo e da conquista de Canaã. Mas nos casos em que há paralelos, em geral o texto bíblico é confirmado. Mantém-se certas interrogações, mas na maioria dos casos as respostas aprecem e contribuem assim para uma melhor compreensão da Bíblia.