29/12/2010

A ÉPOCA DOS JUÍZES EM ISRAEL

Partilha dos paí no
tempo dos Juízes.
As Tribos Instalam-se: A conquista da Terra Prometida realizou-se em duas fases. Num primeiro tempo, foram dirigidos ataques breves, mas violentos, contra a zona centro de Canaã, depois contra o Sul e o Norte do país. Houve algumas batalhas, mas tanto a Bíblia como os dados arqueológicos dão a impressão de que muito poucas cidades foram destruídas durante esta fase.
Os invasores israelitas, claramente, não estavam decididos a expulsar definitivamente os cananeus nem a tomar as suas cidades. Limitaram-se a uma demonstração do seu poderio através de campanhas-relâmpago, depois das quais voltavam para o seu acampamento principal.
A segunda fase, que começou depois da atribuição, feita por Josué, de um território a cada tribo, constituiu a verdadeira tomada de posse do país. Esta fase durou cerca de 350 anos e corresponde ao período dos Juízes. Cada tribo tentou expulsar progressivamente os autóctones e apoderar-se das suas cidades. As proezas de Sansão ilustram as tentativas da tribo de Dã, mas esta sofreu uma derrota (Juízes 14:16; ver também Juízes 18, que conta que as tribos abandonaram o território que lhes tinha sido atribuído para migrarem para outra região).
Seguindo estes dados bíblicos, deveríamos encontrar os lugares de ocupação israelita mais antigos nas regiões onde viviam poucos cananeus. Estudos arqueológicos muito recentes confirmaram isso. A presença das colónias israelitas mais antigas foi encontrada nas regiões acidentadas, onde não existiam cidades cananeias. Estas últimas situavam-se, sobretudo, na planície.
Da Vida de Nómada para a vida Sedentária.
Escavações da primeira casa israelita.
A Bíblia descreve os patriarcas como sendo pastores que seguiam os seus rebanhos por todo o país de Canaã. Chegados ao Egipto, ao país de Gosen, os israelitas conservaram esse estilo de vida. Mesmo durante o período da escravatura, as mulheres e as crianças continuaram a ocupar-se do gado. Na altura do Êxodo, os escravos fugitivos levaram os seus rebanhos. Durante o seu deambular pelo deserto, que durou 40 anos, viveram como pastores nómadas, procurando continuamente novas pastagens para o seu gado.
Segundo a Bíblia, os israelitas eram pastores que não dominavam a agricultura e que não estavam habituados a viver em cidades. Mas a promessa de Deus deu-lhes a certeza de que iriam ocupar um dia as terras férteis de Canaã para aí cultivarem as suas próprias vinhas e os seus próprios pomares. Portanto, só podemos esperar encontrar vestígios de agricultura muito tempo depois do Êxodo. Eles precisaram, de facto, de um certo tempo para se familiarizarem com a agricultura e cultivarem as terras de modo lucrativo.
Também não devemos esquecer que os israelitas tiveram que se instalar em regiões arborizadas ainda não desbravadas. A Bíblia assinala a presença de muitos animais ferozes (Deuteronómio 7:22). Tudo isso implica que os israelitas tiveram que trabalhar a terra ao mesmo tempo que construíram muros de protecção contra as feras. Por isso, não é de estranhar que a instalação definitiva tenha sido um processo bastante lento. Embora a Bíblia não o afirme de modo explícito, pinta-nos o quadro de um grupo de pastores que evoluíram lentamente para um estilo de vida mais agrário.
A questão importante é sabermos se as descobertas arqueológicas confirmaram esta imagem. Os dados mais recentes vão, com efeito, nesse sentido. Segundo a cronologia bíblica, a conquista de Canaã começou por volta de 1400 a.C. Os primeiros vestígios do estabelecimento dos israelitas neste país datam de um pouco antes de 1200 a.C. Isso quer dizer que o processo de transição de uma vida nómada para uma vida sedentária se alargou a um período de cerca de dois séculos.
O relato bíblico vê-se confirmado pelas descobertas feitas no terreno. Estas dizem respeito, geralmente, a pequenos aglomerados (três ou quatro casas) com campos rodeados de muros, uma paisagem que corresponde ao que lemos na Bíblia. Em vários lugares foram encontrados utensílios agrícolas que data desta época, assim como silos para provisões, onde os produtos da colheita eram conservados.
Escavações importantes, forneceram
informações interessantes acerca
das fortificações das
cidades
Já foram descobertos várias destas colónias nas colinas perto de Jerusalém, outras se seguirão, provavelmente. A Norte de Jerusalém, os membros da tribo de Benjamin transformaram algumas casas numa aldeia com excesso de população. Ao estudar os objectos de cerâmica e outros encontrados no local, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os habitantes viviam na pobreza e que, em vários aspectos, eram menos avançados do que os autóctones da época. Por não terem uma longa história de sedentarismo, os israelitas não beneficiavam nem de prosperidade nem das tradições artísticas e culturais que caracterizam, geralmente, uma civilização desse tipo.
Em Ai, os arqueólogos puseram a descoberto um tipo de arquitectura muitas vezes considerado como sendo específico dos israelitas. Ainda que fosse conhecido de outros povos, este tipo de construção encontra-se, sobretudo, nas colónias israelitas. Cada casa era composta por quatro divisões rectangulares, três contíguas e uma quarta que acompanhava as outras em comprimento. A segunda divisão era, provavelmente, um pátio interior onde se desenrolavam as actividades diárias. Pelo menos uma das outras duas divisões estava separada desse pátio por uma filha de colunas ou pilares. Talvez se tratasse de um abrigo destinado aos animais domésticos. Os ricos construíam um segundo andar que cobria uma parte da casa. Certas famílias que não dispunham de meios suficientes tinham de se contentar com uma versão mais modesta de três divisões. Este tipo de casa é facilmente identificado pelos arqueólogos graças aos pilares. São típicas das primeiras colónias israelitas.
A água … uma problema a resolver.
Cerâmica israelita do
período 1500-1000
a.C.
Um segundo lugar, Radanna, situado a Leste de Ai, é muito parecido com esta cidade. Numa das casas, tinha sido cavado um buraco na rocha para conservar a água recolhida durante os meses chuvosos de Inverno. Essa água era extremamente útil durante a estação seca. No passado, as casas tinham sido sempre construídas perto das fontes de águas, de ribeiros ou rios. Mas, na Palestina, as rochas são bastante porosas e não conservam a água durante muito tempo. A descoberta destes reservatórios típicos das casas israelitas sugere que estes tinham aprendido a dominar uma nova técnica.
Nos tempos antigos, já se conhecia o reboco, mas só nas casas dos primeiros colonos israelitas no país de Canaã é que se encontrou o reboco utilizado para impermeabilizar estes reservatórios. Não sabemos ao certo se foram os israelitas que inventaram este processo, mas, em todo o caso, parecem ter sido eles os primeiros a utilizá-lo quando se instalaram nas colinas da Palestina. A partir de então, tornou-se possível construir casas praticamente em todas as colinas. Graças a esses reservatórios forrados de reboco, o abastecimento de água deixou de ser um problema, o que permitiu aos israelitas estabelecerem-se nos lugares onde os cananeus não tinham ousado instalar-se. É verdade que a água devia ter um sabor horrível depois de uma longa conservação. No entanto, este processo ainda hoje é usado em certas aldeias. A sede faz esquecer o sabor…
Casas típicas de quatro divisões,
em Berseba, na fronteira
no Neguev.
 Também foram encontradas casas de quatro divisões com reservatório de água em Izbet Sartah, a noroeste de Jerusalém, na parte ocidental das colinas. Mas, neste lugar, foi descoberto um outro elemento de grande importância: um ostracon (pedaço de cerâmica com uma inscrição) com o texto hebraico mais longo encontrado até esse momento. Infelizmente, não se trata de uma mensagem clara, mas, provavelmente, de tentativas desajeitadas de um aluno que queria escrever o alfabeto. No entanto, essa inscrição tem a sua importância: mostra-nos que, apesar da sua pobreza relativa e da sua pouca cultura, os israelitas aprendiam a ler e a escrever. Isso confirma o relato de Juízes 8:14, onde se pode ler que um menino israelita escreve informações dirigidas a Gideão.
O quarto lugar está localizado a sudoeste de Jerusalém, em Gilo. Ainda se podem ver ali os muros que rodeavam os campos. Em cada campo tinha sido construída uma casa. Cada família possuía, portanto, um campo próximo da casa, o que facilitava bastante a protecção do gado e o trabalho agrícola. O inconveniente era que essas ´quintinhas´ eram muito vulneráveis em face dos inimigos. Pouco tempo depois da chegada dos israelitas àquela região, os filisteus vieram atacá-los nas colinas. Isso provocou mudanças na concepção dos aglomerados habitacionais.
As primeiras aldeias.
A cerâmica e os objectos
metálicos.
Uma das primeiras aldeias israelitas estava situada no Neguev, perto de Berseba. Escavações muito recentes permitiram descobrir aí uma espécie de cidade israelita. Nesse local, em Tel Masos mais exactamente, foi encontrado um grande número de casas de quatro divisões tipicamente israelitas (com variantes), que formavam um aglomerado cujas dimensões são sãs de uma cidade da Antiguidade. Pormenor notável: esta ´cidade´ não era protegida por uma muralha. Nesta região, foram encontradas muito poucas casas desta época, de outros estilos. Só uma ou duas casas parecem ter sido construídas no estilo egípcio desse período e pelo menos um dos outros edifícios parece ter tido uma função pública.
Um estudo intensivo deste local demonstrou que a repartição das divisões nas casas israelitas mais antigas era muito semelhante à das tendas dos beduínos em que os israelitas tinham vivido durante séculos. Tudo leva a crer que a casa típica de quatro divisões deriva dessas tendas. Estamos, portanto, perante uma confirmação arquitectural da imagem dada pela Bíblia, a saber, a evolução lenta e progressiva de uma sociedade nómada para uma sociedade sedentária e agrária.
A cerâmica e os objectos metálicos que os israelitas fabricaram localmente eram idênticos aos utilizados pelos cananeus desta região. O povo de Israel assimilou, portanto, muito rapidamente alguns elementos da cultura cananeia e copiou os utensílios. Os antropólogos afirmam que uma evolução cultural desse tipo abarca várias gerações, e pode demorar mesmo dois séculos. Tel Masos confirma não só a ideia bíblica de um processo progressivo de instalação, mas também a cronologia bíblica, que situa a primeira fase da conquista cerca de duzentos anos antes das primeiras colónias israelitas.

23/12/2010

ISRAEL E OS FILISTEUS

Observem estes dois vasos
o segundo é Cretense, este é
filisteu.
Segundo a Bíblia, os filisteus eram oriundos de Caftor, lugar identificado com a ilha de Creta. As descobertas vieram confirmar essa afirmação. Algumas encontradas em lugares onde habitavam os filisteus parecem-se muito com um tipo de escrita grega. Mas é a sua cerâmica que fornece o primeiro indício dessa origem. Essa cerâmica está pintada da mesma maneira que a cerâmica da Creta minóica. A civilização minóica foi destruída pouco antes do aparecimento dos filisteus em Canaã. Por isso, não +e impossível que os filisteus sejam sobreviventes desse célebre império minóico. Isso concorda, também, com as informações fornecidas pelo Egipto, a respeito dos filisteus. Entre estas, figura a descrição pormenorizada de um exército que, com a ajuda de barcos, desceu ao Egipto para invadir o país. Os egípcios falavam dos “povos do mar”.
Estes foram vencidos pelo exército egípcio e expulsos para o Sul da Palestina. Dois desses grupos, entre os quais os filisteus, instalaram-se nessa região.
deus peixe, o deus nacional
dos filisteus, vejam como
as tradições têm raízes
tão profundas.
Os filisteus fundaram cinco cidades principais no sudoeste da Palestina, considerado durante todo o período bíblico como o seu país de habitação: Gate, Ecrom, Asdode, Asquelom e Gaza. À excepção de algumas particularidades, parece que os filisteus adoptaram a cultura e o estilo de vida dos cananeus. Em muitas casas, foram descobertas muitas vasilhas de cerveja feitas em barro, o que sugere que eles gostavam da bebida. Isso não é estranho para o estudante da Bíblia que leu o episódio de Sansão, o juiz que não rejeitava as festas.
Foram os filisteus que introduziram o saber-fazer no trabalho com os metais. Foi especialmente o ferro que fez a sua entrada com a chegada dos filisteus. Segundo 1ª Samuel 13:19-22, os filisteus possuíam o monopólio da metalurgia. Nas regiões habitadas pelos filisteus, os objectos metálicos encontrados são muito mais numerosos do que nas primeiras colónias israelitas.
Dado que habitavam perto do Egipto, os filisteus mantinham laços estreitos com os seus vizinhos. Temos indícios que fazem pensar que, de tempos a tempos, eles serviam no exército egípcio como mercenários. Essa ligação estreita influenciou a cultura palestiniana em certos domínios. A influência egípcia é evidente no modo de enterrar os mortos. Perto de Dier el-Balah, não longe de Gaza, foi descoberto um grande cemitério, onde tinham sido enterrados os soldados egípcios de uma guarnição estacionada nesse lugar pouco antes da chegada dos filisteus… tinham sido sepultados em caixões de cerâmicas. Na tampa, tinham sido esculpidos o seu rosto e os seus braços, obtendo, assim uma versão rudimentar de um sarcófago semelhante ao de Tutankamon. Depois deles, os filisteus continuaram a enterrar os seus mortos da mesma maneira.
Por vezes, foi extremamente difícil distinguir os túmulos filisteus dos sepulcros egípcios. Tratava-se, provavelmente, de soldados filisteus que serviam no exército egípcio.
A Bíblia descreve os filisteus como um povo bélico. Esta indicação é confirmada pela pressa que mostravam em alistar-se no exército egípcio logo que as guerras escasseavam no seu próprio país…

21/12/2010

A EXPANSÃO DAS CIDADES EM ISRAEL

A ameaça militar dos filisteus constituiu um perigo constante para as pequenas colónias agrárias israelitas situadas nas colinas. Um aglomerado protegido apenas por um muro de terra era uma presa fácil. Por isso, os seus habitantes acabaram por deixar essas colónias para construir cidades e aldeias maiores. Também foram construídas fortificações mais importantes, capazes de resistir aos ataques e infra-estrutura destinadas a alojar um contingente importante de homens válidos. Marjama, a Norte de Jerusalém, era uma cidade desse tipo. Também poderíamos citar Siquém, Gesur, Betel, Babaon, etc., cidades mais ou menos grandes, habitadas continuamente desde o tempo dos reis de Israel até à sua destruição pelos babilónios.
Ruínas de Betel
Embora os camponeses tivessem frequentemente que percorrer longas distâncias para irem cultivar os seus campos – no tempo das colheitas, muitas vezes passavam lá a noite – essa urbanização teve um efeito positivo sobre o seguimento da conquista do país. Os pequenos campos trabalhados aqui e ali já não eram suficientes. A necessidade de terras agrícolas mais vastas estimulou a continuação da expulsão dos cananeus. 
Ruínas de Siquém


17/12/2010

O CULTO DE BAAL

Estatueta em bronze de
Baal, o deus das tempestades.
A vida urbana apresentava um inconveniente importante para os israelitas. À medida que a população das cidades aumentava, estas pareciam-se cada vez mais com as dos cananeus. Os habitantes tinham cada vez mais tendências a assimilar elementos da cultura cananeia, incluindo elementos religiosos. Os israelitas não tinham uma cultura nem uma tradição citadinas. Nada mais normal, portanto, do que imitar os cananeus. A prosperidade relativa deste últimos ainda tornava mais atraente o seu modo de vida.
Graças à descoberta espectacular de centenas de placas de argila em Ugarit, na Síria, estamos agora em condições de descrever com exactidão a religião cananeia. O pai de todas as divindades era El. A raiz “El”, que encontramos em muitos nomes hebraicos, era um patronímico divino muito espalhado no Próximo Oriente. Por vezes, esse nome era confundido com o de outra divindade importante nalgumas regiões: “baal” (= senhor).
Com a sua mulher, Ashera, El criou tudo, incluindo o panteão dos deuses. Alguns dos deuses mais célebres foram Dagon (venerado pelos filisteus), Anate (a deusa do amor e da guerra), Yam (o deus do mar) e Kothar –Wahasis (o deus dos artesãos). Mas Hadade, ou Baal, o deus das tempestades, era, realmente, o mais poderoso e o mais célebre.
Pequeno altar utilizado pelos
cananeus para todo o
tipo de rituais
religiosos
Baal era representado com um raio na mão e era louvado pela vida que proporcionava sob a forma de chuva. Considerado como o deus mais útil ao homem, não é de estranhar que fosse adorado em toda a terra de Canaã. É muito conhecido o relato da luta cósmica que Baal venceu contra o seu irmão Yam, seu inimigo figadal. Se Yam tivesse vencido, a água e a chuva teriam desaparecido da face da Terra e a humanidade teria morrido. Baal também lutou contra o seu irmão Mot, o deus da morte. Desta vez, Baal foi vencido, mas, em consequência da intercessão de Anate, Mot foi morto e Baal ressuscitado. Todos os anos, a morte e a ressurreição de Baal era repetidas simbolicamente. No Médio Oriente, a passagem da estação seca para a estação das chuvas era explicada como sendo a morte e a ressurreição do deus das tempestades. Cada tempestade era uma ocasião para festejar a vitória de Baal.
Uma divindade para uma comunidade agrícola.
À medida que o tempo passava, os israelitas, que se interessavam cada vez mais pelo ciclo agrário, deram-se conta de que dependiam muito da chuva. Este interesse crescente pala agricultura e a sua tendência a instalarem-se nas cidades aumentaram a sua atracção pelo culto de Baal. Qualquer pessoa que leia o livro de Juízes descobre o quanto os israelitas hesitaram entre Deus e Baal. O culto de Baal representava, realmente, uma enorme tentação para eles.
Estatueta da deusa
Ashera, ou Astarte
Várias vezes Deus aproveitou acontecimentos como epidemias, fomes ou guerras para tentar trazê-los de volta ao caminho certo. No tempo de Elias, a fome que durou três anos faz mais sentido, se soubermos que Baal era o deus da chuva (1ª Reis 17,18). Se Baal, o deus venerado pela maior parte dos israelitas da época, era o deus da chuva, então como é que ele podia permitir uma seca tão terrível? No momento em que o conflito atingiu o seu apogeu, no monte Carmelo, foi o Deus de Elias que deu a chuva e Baal foi desmascarado como um ídolo vulgar.
Os textos de Ugarit também esclareciam a história de Gideão, que recebeu ordem de Deus para destruir os Baals e as Asheras do seu pai. Os Baals eram, provavelmente, estátuas que se podiam encontrar nos campos, as Asheras eram símbolos esculpidos em madeira que representavam esta deusa. Ashera era a mãe de todos os deuses, deusa da fertilidade e patrona dos homens e dos animais. Quando se fizeram as escavações na Palestina, foram encontradas centenas de estatuetas de Ashera, datadas de todas as épocas. Isso mostra o lugar importante que esta deusa ocupava na vida das pessoas. Era sempre representada nua, e os seus atributos sexuais desmedidos acentuavam o seu poder de fertilidade.
Entre a Fidelidade e a Idolatria.
Altar com quatro chifres. Em
Megido, foi encontrado um
altar semelhante, mas os quatro
chifres tinham sido quebrados.
Em certas épocas, os israelitas serviram Baal e noutras permaneceram fiéis a Deus. A arqueologia encontrou vestígios desses períodos de fidelidade. Perto de Megido, junto ao monte Carmelo, a noroeste de Jerusalém, foram encontrados altares de incenso. Nos quatro cantos, os chifres tinham sido arrancados.
Podemos imaginar facilmente como os israelitas, depois da sua vitória em Megido (o grande faraó Tutmosis II não tinha conseguido vencê-la) demoliram todos os objectos relacionados com o culto idólatra.
Isso é ainda mais evidente perto de Hazor, no extremo norte do país. Jabim, rei de Hazor, dirigiu uma coligação de cidades cananeias que declararam guerra a Israel no tempo de Débora, a única mulher juiz em Israel. Sob a direcção de Baraque, os israelitas combateram os cananeus perto de Megido. O texto bíblico indica que Deus enviou uma chuva abundante. Os carros de guerra cananeus atolaram-se e os israelitas obtiveram a vitória.
Pela mesma época, Hazor, a maior cidade da Palestina, foi destruída. A vasta cidade baixa nunca mais foi habitada, e quando Hazor foi reconstruída no tempo de Salomão, ocupava apenas a vigésima parte da sua superfície inicial
Em cima: Hazor, vista geral das
escavações.
Em baixo: Estelas usadas no culto,
encontradas num santuário
em Hazor.
Quando foram feitas as escavações em Hazor, foram descobertos templos e santuários. O maior e mais belo de todos eles era feito em pedras basálticas cuidadosamente trabalhadas. De todas as pedras utilizadas na Palestina, estas eram as mais difíceis de talhar. Mas o acabamento era extraordinário! Todos os elementos encontrados neste lugar levaram à conclusão de que se tratava de um templo de Baal. No jardim situado no exterior do templo, os arqueólogos descobriam um poço cavado pelos vencedores, no qual tinha sido lançado uma grande estátua de um leão. Seria esta estátua chocante para os vencedores, que assim se livraram dela? Ter-se-á produzido aquele evento no quadro das reformas feitas após a batalha de Megido? É o que pensam muitos arqueólogos.
Na cidade de Laquis, a sudoeste de Jerusalém um templo foi destruído da mesma maneira e na mesma época. Tratava-se de um templo extremamente vulnerável, já que tinha sido construído fora da cidade, como se já não houvesse espaço suficiente no interior das muralhas.
Poderíamos ainda fornecer outros exemplos, mas a imagem global é clara. Na segunda fase da conquista, quando os israelitas se instalaram definitivamente, numerosas cidades da Palestina foram destruídas. Não está excluída a possibilidade de algumas destruições terem outras causas, mas é mais do que provável que um bom número dentre elas deva ser atribuído aos israelitas que invadiram o país.

07/12/2010

O REINO UNIFICADO

1. O Nascimento da Monarquia.
Os filisteus eram uma constante ameaça e este perigo sempre iminente levou os israelitas a sair das suas pequenas colónias agrícolas para se instalarem em cidades mais bem fortificadas. Infelizmente, isso revelou-se insuficiente. Com efeito, a ausência de uma organização central poderosa conduziu à anarquia e à guerra civil (ver Juízes 19-21). A sua defesa debilitou-se e passaram a sofrer cada vez mais pressão da parte dos filisteus.
Esta anarquia política e a agressão filisteia atingiram o seu apogeu nos meados do século XI a.C.. A população começou a exigir um rei que exercesse um poder tangível. Em dois lugares diferentes, Gibeá e Silo, foram encontrados indícios dessas tensões no seio do povo de Israel.
Em Tell el-Ful, a antiga Gibeá, a Norte de Jerusalém, foram descobertos vestígios de uma destruição datada do fim do século XII, correspondente, provavelmente, ao que pode ler em Juízes 20. a anarquia política e social levou a uma guerra civil, no decurso da qual uma cidade israelita foi destruída por onze tribos de Israel.
Em Silo, as escavações também forneceram as provas de uma destruição que remonta a meados do século XI. A maior parte dos arqueólogos pensa que esta foi causada pelos filisteus, no momento da batalha de Eben-Ezer, relatada em 1ª Samuel 4. Siló estava situada no meio das colinas. Era aí que se encontrava o tabernáculo, uma razão suplementar para que os filisteus atacassem esta cidade. A destruição do centro religioso dos israelitas teria sido uma vitória psicológica importante. Depois desta guerra santa, com a qual o território israelita ficou exposto a outros ataques dos filisteus. Um rei suficientemente poderoso, um exército regular e que representasse o poder do estado, poderiam remediar este problema. Foi justamente por isso que Deus permitiu que Samuel ungisse um rei (1ª Samuel 8:9).
"Gibeá de Saul"
2. Gibeá de Saul.
Em 1ª Samuel 11:4 podemos ler a expressão “Gibeá de Saul”. A destruição de Gibeá, mencionada acima, foi seguida por um período em que a cidade ficou praticamente deserta. Ao mesmo tempo, a tribo de Benjamin foi quase dizimada, como nos indicam os capítulos 20 e 21 do livro de Juízes. Antes da reconstrução da cidade, restava apenas uma fortaleza, com uma torre em cada um dos quatro ângulos. Gibeá ficava situada sobre uma colina um pouco a Norte de Jerusalém, no coração do território de Benjamin. Dominava uma grande parte do vale do Jordão a Leste e uma grande planície fértil a Oeste, um bastião ideal para a protecção do coração de Israel.
Ruínas do palácio do rei Saul.
A fortaleza de Gibeá foi provavelmente construída por Saul e serviu-lhe de residência real, e daí a expressão “Gibeá de Saul”. Foi edificada com pedras brutas sobrepostas sem cimento, num estilo bem menos refinado do que o das casas importantes dos cananeus que residiam nas planícies. Não foram lá encontrados nenhuns objectos de ouro, nem de prata, nem de marfim nem pedras preciosas. O palácio de Saul foi um edifício bastante modesto.
A pobreza era evidente, embora a Bíblia não o diga de forma explícita. Os próprios princípios do direito israelita tendiam para um nivelamento social. O objectivo era manter uma certa igualdade, tanto no plano económico como no social. Numa sociedade deste tipo, a consolidação do poder real demorou tempo. Saul teve de agir com muito tacto e de aceitar compromissos em todos os domínios. Um luxo excessivo no inicio do seu reinado teria minado o seu poder.

Ruínas do palácio de Saul
1ª Samuel 9-13 e, especialmente, 1ª Samuel 13:1 e 2, contam-nos como é que Saul foi feito rei. O relato mostra que foi preciso esperar pelo segundo ano para que Saul constituísse um pequeno exército, mostrando assim toda a prudência de que devia dar provas em face dos princípios israelitas. As imagens que nos são fornecidas pela Bíblia e pela arqueologia vão no mesmo sentido. Saul não era um rei de aspecto majestoso.
3. Guerra civil perto de Gibeão.

Depois da morte de Saul e de Jónatas na batalha perto do monte Gilboa, David, que tinha sido ungido rei por Samuel pouco antes, começou a revelar as suas verdadeiras aspirações. Em Hebrom, foi coroado rei de Judá, mas as tribos de Israel (a parte Norte do país) estavam mais voltadas para Isbosete, um dos filhos de Saul. Com o apoio de Abner, o comandante-chefe do exército de Saul, Isbosete reinou no norte do país. Os dois exércitos encontram-se em Gibeão, uma cidade a noroeste de Jerusalém, perto de Gibeá, a capital de Saul. Foi estabelecida uma trégua. Os chefes dos dois exércitos, Abner e Joabe, encontraram-se perto do tanque de Gibeão, a fim de negociar. Foi decidido que cada campo enviaria doze homens valentes para combater. Segundo 2ª Samuel 2, os 24 soldados morreram e o combate ficou sem vencedor. Por isso, apesar de tudo, os dois exércitos tiveram que se enfrentar. Daí resultou uma vitória para David.

Poço cavado na rocha calcária, em Gibeão.

Foi descoberto um poço em Gibeão, provavelmente muito perto do lugar onde se desenrolou essa célebre batalha. No interior desse poço de dez metros de diâmetro, uma escada em caracol levava até ao fundo, cerca dezoito metros mais abaixo. Mais tarde, um túnel ligou este poço a uma fonte. Hoje, o poço está seco. As suas dimensões não têm nada de extraordinário; mas trata-se do poço mais antigo encontrado na Palestina até agora. É um dos primeiros poços que foram cavados e podemos compreender que fosse o orgulho daqueles homens.


06/12/2010

OS PIORES INIMIGOS DA ARQUEOLOGI BÍBLICA.

Uma das maiores ironias no mundo académico é saber que os piores inimigos da Bíblia não são ateus, evolucionistas ou agnósticos, mas sim teólogos bíblicos que lecionam Antigo e Novo Testamento em universidades nos Estados Unidos e Europa.
Esse é caso de Philip Davies, da Universidade Sheffield, na Inglaterra. Para ele, David não é mais histórico do que o Rei Artur e os cavaleiros da távola redonda; por outras palavras, é folclore britânico. Essa é a opinião dele na obra In the Search of 'Ancient' Israel (Em busca do 'antigo' Israel), publicada em 1992. O seu argumento, porém, era baseado no silêncio de fontes históricas fora da Bíblia que mencionassem o famoso rei israelita. Um argumento, diga-se de passagem, muito perigoso para qualquer académico.
Ironicamente, um ano após Davies publicar  a sua obra, a equipa de Avraham Biran, arqueólogo do Hebrew Union College, em Jerusalém, encontrou em Tel Dan, no norte de Israel, o fragmento de uma estela (pedra) contendo o registo histórico de uma guerra entre os reis da Síria, Israel e Judá. Nesse documento, o reino de Israel é chamado "Casa de Israel", enquanto o reino de Judá é chamado "Casa de David" (na quinta linha de baixo para cima, na foto)!
Até recentemente não existia nenhuma prova concreta de que o Rei David realmente existira. Então parte de um antigo monumento foi encontrado na provícia de Dan, em Israel. A inscrição menciona a Casa de David, provando assim que aquele Rei realmente existiu.
Ao anunciar a descoberta, a Biblical Archeology Review destinou mais de 15 páginas para falar a respeito do assunto, escritas pelo próprio Dr. Biran. Poucas edições depois, foi a vez de Philip Davies contra-atacar. Segundo ele, o documento arqueológico poderia ser uma fraude. O que Davies se esqueceu foi que o artefato não foi comprado de nenhum comerciante palestino ou judeu, mas foi desenterrado pela auxiliar de campo Gila Cook.
Outro argumento utilizado pelo académico de Sheffiled é a tradução da expressão aramaica BYTDWD como "Casa de David". Ele notou que todas as palavras do texto estão separadas por um ponto, mas nessa expressão não há ponto algum. Sendo assim, a tradução "Casa de David" estaria a ser forçada. Porém, ele  esqueceu-se  que os especialista em linguas hebraicas e aramaicas já sabiam: que quando há junção de um substantivo (BYT — casa) e um nome próprio (DWD — David), não se utiliza nenhum ponto na separação. Esse era um costume comum entre assírios, babilónicos e arameus (e a estela foi escrita em aramaico) no registo de um texto.
Para Kenneth Kitchen, uma das maiores autoridades em estudos orientais da actualidade, a descoberta é tremenda. De acordo com ele, a expressão "Casa de..." refere-se ao fundador da determinada dinastia, sendo atestada em todo o Médio Oriente da época. Estaria esse documento a mencionar o rei David, o autor do famoso Salmo 23? As evidências sugerem que sim. Bastou apenas um ano para uma descoberta arqueológica desmoronar a pesquisa de Philip Davies! Isso sim é ironia.
Essa peça esteve exposta, no Masp, São Paulo, Brasil. Quem assistiu testemunhou que cinco minutos valia uma vida. Sim,  ver tal peça e relembrar as tantas histórias desse grande personagem da Bíblia. Eu conhecia a posição do Dr. Philip Davies sabia também  da história do achado (não pude estar lá, que pena!) e o seu valor para o cristão no século 21, mas mesmo assim foi uma experiência poderosa, uma vez que a história bíblica pôde transpor milénios e ganhar um colorido mais acentuado através de um achado com quase três mil anos! Sim, as pedras falarão, esta falou, Glória a Deus!

27/11/2010

A UNIVERSIDADE HEBRAICA ANUNCIA DESCOBERTA DE DOCUMENTO COM 3.400 ANOS.

A Universidade Hebraica de Jerusalém divulgou a descoberta de um pequeno pedaço de argila de aproximadamente 3,4 mil anos. Segundo a instituição, o objecto foi descoberto nas muralhas da cidade antiga e é o documento escrito mais antigo da história de Jerusalém.
Os cientistas acreditam que o fragmento fazia parte de uma tabuleta que, por sua vez, pertencia aos arquivos reais da época da Idade do Bronze, muito antes de a cidade ser conquistada por David.
O fragmento é muito pequeno, com 2 cm por 2,8 cm, e contém símbolos cuneiformes do idioma acádio. Os cientistas afirmam que os significados das palavras não têm grande importância (os pesquisadores traduziram palavras como “você”, “onde”, “tarde” e outras), ao contrário da sua forma, de grande nível, o que indica ter sido escrita por um escriba muito hábil o que, por sua vez, indica que documento pertenceu à realeza da época. Contribui para essa hipótese um exame que indica que a argila da tabuleta é da região de Jerusalém, e não de outro reino da época.
Ainda de acordo com a universidade, o fragmento é cerca de 600 anos mais velho que o documento que até então era considerado o mais antigo. O pedaço de argila indica ainda, segundo os cientistas, que Jerusalém era uma cidade importante durante a época, o que vai contra o que se acreditava até agora, de que esse centro urbano só foi ganhar importância anos mais tarde.

Israelitas descobrem tesouro da época do Império Romano
A maior colecção de moedas raras já encontrada em uma escavação científica do período da revolta judaica de Bar-Kokhba contra os romanos foi descoberta em uma caverna por pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Universidade Bar-Ilan.
As moedas foram encontradas em três lotes, em uma caverna localizada na reserva natural das montanhas da Judeia. O tesouro inclui moedas de ouro, prata e bronze, assim como armas e cerâmica.

A descoberta foi feita durante a pesquisa e mapeamento da caverna realizada por Boaz Langford e Amos Frumkin, da unidade de pesquisa de cavernas do departamento de geografia da Universidade Hebraica, juntamente com Boaz Zissu e Hanan Eshel da Universidade Bar-Ilan.
As cerca de 120 moedas foram descobertas dentro de uma caverna que tem uma “ala escondida”. A abertura dessa ala levou a uma pequena câmara que, por sua vez, se abre para uma sala que servia de esconderijo para os combatentes judeus de Bar-Kochba.
A maior parte das moedas descobertas está em excelentes condições. Elas eram prensadas por cima das moedas romanas pelos rebeldes. As novas marcas mostram imagens judaicas e palavras (por exemplo, a fachada do Templo de Jerusalém e o slogan “para a liberdade de Jerusalém”).
Outras moedas encontradas, de ouro, prata e bronze, são moedas romanas do período e cunhadas em outras partes do império romano ou em Israel.


24/11/2010

AS CONSTRUÇÕES DE SALOMÃO

Mesquita de Omar, com um exemplo de
reconstrução do templo de
Salomão.
Sabemos muito pouco sobre as realizações arquitectónicas de David. Preocupado com a expansão do seu reino, restava-lhe, certamente, pouco tempo para construir. As grandes construções só são possíveis em tempo de paz. Essa paz foi parte da herança deixada por David ao seu filho Salomão, que recolheu os frutos dos esforços do seu pai. Assim, Salomão pôde consagrar uma parte importante do seu tempo a cultivar a sabedoria, a arte e a estética. O modo como ele evidenciou a grandeza da sua monarquia oriental foi imortalizada num provérbio.
Há indícios bíblicos e arqueológicos que nos indicam que, para tornar possível esse fausto, o povo devia ser pesadamente tributado. Isso pode ver-se claramente em 2ª Reis 12, que conta o acesso ao trono de Roboão, o filho de Salomão. As tribos do Norte do país recusaram reconhecer Roboão, uma vez que ele tinha a intenção de lhes impor um jugo tão pesado como o do seu pai Salomão. Aparentemente, as exigências de Salomão suscitavam um descontentamento cada vez maior.
Os arqueólogos que estudam o período de unificação do Reino servem-se de dois versículos bíblicos como ponto de partida das suas investigações. Em 1ª Reis 9:15 podemos ler: “E esta é a causa do tributo que impôs o rei Salomão, para edificar a Casa do Senhor, e a sua casa, e Milo, e o muro de Jerusalém, como também a Hazor, e a Megido, e a Geze.” 1ª Reis 9:19 acrescenta: “…e todas as cidades das munições que Salomão tinha, e as cidades dos carros, e as cidades dos cavaleiros, e o que o desejo de Salomão quis edificar em Jerusalém, e no Líbano, e em toda a terra do seu domínio.” O que Ramsés II foi para o Egipto, foi-o Salomão para Israel. A Bíblia afirma que Salomão tomou a iniciativa de numerosas construções. Esse facto é confirmado pelas descobertas arqueológicas, como veremos no decorrer deste estudo.
1. O Templo de Salomão.
As numerosas escavações feitas em Jerusalém não permitiram descobrir os vestígios do templo de Salomão. Geralmente, presume-se que esse templo foi construído sobre o terreno rochoso mais elevado, onde se situa actualmente a Mesquita de Omar. O templo de Salomão foi destruído em 586 a. C., na altura da tomada de Jerusalém pelos babilónios. Os vestígios foram, provavelmente, totalmente eliminado pelos construtores posteriores, como Zorobabel e Herodes. Alguns arqueólogos chamaram a atenção para uma fissura na alvenaria perto da extremidade Sul do muro da esplanada do templo e sugerem que essas pedras podem datar do tempo de Salomão. Mas não dispomos de nenhuma prova que confirme essa hipótese.
A partir de 1ª Reis 6 e 7, onde podemos ler uma descrição pormenorizada do templo, numerosos pesquisadores tentaram realizar uma maqueta. Hoje, é possível termos uma ideia relativamente fiável do templo.
Jerusalém no tempo
de Salomão.
2. O palácio de Salomão.
Tal como aconteceu com o templo, nada estou do grande palácio que Salomão mandou construir em madeira de cedro. As informações fornecidas por 1ª Reis 7 permitem-nos supor que o palácio teria sido construído ao lado do templo, e que ainda era maior do que este. A construção do palácio demorou treze anos, enquanto que, para o templo bastaram sete anos. Tudo leva a crer que o templo fazia parte de todo o complexo ligado ao palácio, como era o caso em Tell Tayinat, na Síria. De todos os templos encontrados, é o que mais se assemelha ao templo de Salomão.
3. O Milo (2ª Sam. 5:9; 1ª Reis 9:15,24)
Em certas versões bíblicas, esta palavra não foi traduzida, porque os tradutores não chegaram a acordado quanto ao seu significado. É derivada de uma palavra que significa “encher”. “Milo” designaria, portanto, alguma coisa que se pode encher de um modo ou de outro. Depois de ter trazido à luz uma pequena parte da cidade antiga de Jerusalém nos anos sessenta, Kathleen Kenyon avançou a hipótese de que Milo fosse uma série de terraços formados por rochas, realizados ao longo das encostas da cidade velha. Esses terraços estavam “cheios” de uma grande quantidade de pedras, necessárias para o seu nivelamento. As escavações realizadas mais tarde pela Universidade Hebraica permitiram concluir que esses terraços tinham sido construídos depois da época de Salomão. No entanto, sob os terraços, foi descoberta uma barreira em pedra que data do tempo de Salomão e que servia para facilitar a defesa da cidade. é muito provável que esta barreira, cheia de pedras, fosse de facto, o Milo de Salomão. 
Base em bronze para uma bacia
destinada às purificações
rituais.
4. A metalurgia.
1ª Reis 7 descrevem vários objectos destinados ao templo e fabricados em cobre e noutros metais. O mais notável desses objectos foi, certamente, a bacia de latão fabricada numa só peça. Com os seus cinto metros de diâmetro, este exemplo de habilidade metalúrgica suscitaria ainda hoje a admiração. Um estudo recente das dimensões de outras especificidades desta bacia, descritas em 1ª Reis 7, pôs em evidência uma notável exactidão matemática. Era realmente necessária uma tecnologia avançada para conseguir esta proeza!
Em várias zonas do recinto do templo havia outras bacias mais pequenas, colocadas sobre bases. Uma delas, em bronze, datando desta época, foi encontrada em Tel es-Saidiyeh, no vale do Jordão. A base, ornamentada com romãs, é semelhante às das bacias descritas em 1ª Reis 7:38.
Muito antes deste tempo, tinham sido exploradas minas de metais e, principalmente, de cobre na península do Sinai. Os egípcios primeiro, depois os israelitas, utilizaram estas mins de cobre situadas perto de Timna, a alguns quilómetros a Norte do golfo de Acaba. Os vestígios mostram que o seu apogeu se deu no tempo de Salomão. A maior parte dos arqueólogos afirmam que os objectos citados em 1ª Reis 7 foram realizados a partir do cobre extraído restas minas. A fundição do minério fazia-se no próprio lugar, sendo depois o cobre transportado, para com ele se forjarem os objectos necessários ao templo.

Ostracon datando de
1000-800 a.C, com a
inscrição "Ouro de Ofir,
para Bete-Horom".
5. O comércio.
Os minérios foram, provavelmente, transportados por caravanas que pertenciam às autoridades. A Bíblia menciona o comércio lucrativo de Salomão com os povos vizinhos (1ª Reis 9:26-28). Os arqueólogos descobriram um número importante de cidades construídas no tempo de Salomão, que tinham muitos edifícios públicos, entre os quais havia vários claramente destinados à conservação de estoques. Tudo parece indicar que Salomão mandou construir essas cidades-armazém em lugares estratégicos em todo o país, a fim de permitir um transporte rápido das mercadorias. Numerosos ostracons (pedaços de objectos de barro contendo partes de textos) mais recentes foram identificados como sendo uma espécie de recibos para mercadorias transportadas de um depósito para outro. Um desses textos fala mesmo de Ouro de Ofir, como em 1 ª Reis 9:28.

Cidade de Megido

Maqueta da cidade de Megido,
de acordo com as descobertas feitas no lugar.
O comércio com o Egipto necessitava de longas viagens através do deserto do Sinai, onde as tribos nómadas agressivas espreitavam e pilhavam as caravanas. No reinado de Salomão, o Neguev, a região desértica ao Sul da Palestina, era protegido por uma rede de fortificações situadas ao longo dos itinerários seguidos pelas caravanas, a fim de preservar os interesses comerciais de Salomão e defender a fronteira Sul de Israel. Era nestas fortificações que os transportadores podiam passar a noite. Os soldados que aí estavam colocados tinham por missão proteger as caravanas contra os bandos de ladrões itinerantes. Assim, Salomão conseguiu, ao mesmo tempo, preservar os seus investimentos comerciais e aumentar a fama do seu reino.
6. Hazor, Megido e Gezer.Os dados arqueológicos mais espectaculares, relativos ao tempo de Salomão, vêm-nos das três cidades mencionadas em 1ª Reis 9:15: Hazor, Megido e Gezer. A história da descoberta arqueológica destas três cidades estende-se por um período de sessenta anos aproximadamente, a partir das primeiras escavações perto de Gezer, por volta de 1910, até às mais recentes, perto de Megido.
Já mencionámos as escavações feitas por R. A. S. Macalister perto de Gezer. A sua técnica era a habitual naquela época, mas o número limitado de supervisores teve como consequência que nem todas as descobertas foram registadas de modo satisfatório. No relatório final da sua campanha arqueológica, ele apenas pôde apresentar algumas provas a respeito da cidade de Salomão. Se a sua hipótese se tivesse revelado exacta, isso significaria que a afirmação bíblica de 1ª Reis 9:15, segundo a qual Salomão tinha mandado construir Gezer, estava errada.
Reconstrução de uma porta
em Hazor.
Quando se fizeram as escavações em Megido, nos anos trinta, foram descobertos muitos elementos relativos à época de Salomão. Esta cidade possuía muralhas, que incluíam várias casamatas (pequenas divisões fortificas, situadas entre as duas paredes das muralhas, que reforçavam as defesas). A porta da cidade, que fazia parte das muralhas, é considerada única na história da arqueologia. Geralmente, a porta era o elo fraco na fortificação de uma cidade. Para reduzir a sua vulnerabilidade, construía-se uma torre de cada lado da porta, assim como vários pequenos portões de acesso ao interior da mesma. A porta que Salomão mandou construir em Megido era ladeada por duas torres de cada lado da porta, assim como vários pequenos portões de acesso ao interior da mesma. A porta que Salomão mandou construir em Megido era ladeada por duas torres e munida de quatro portões internos (em vez dos dois ou três habituais). Tinha sido igualmente construída, de um lado e do outro de cada pequena porta interior, uma sala para os guardas. Um inimigo potencial teria, portanto, que atravessar quatro portões defendidos, cada um deles, por vários guardas.
Escavações em Hazor permitiram trazer
à luz uma porta datada da época de
Salomão semelhante à de Megido.
A parte Sul dos vestígios encontrados revela um grande edifício, constituído por um grande pátio, com varas salas longas e estreitas. Tratava-se das estrebarias da valaria de Salomão, mencionadas em 1ª Reis 9:19. ao lado das estrebarias encontrava-se um palácio imponente que servia, provavelmente, de residência a Salomão quando este estava fora de Jerusalém.
Um bom número de outros edifícios importantes, entre os quais um segundo complexo de estrebarias, a Norte da cidade, também datam do tempo de Salomão. Contrariamente às escavações realizadas perto de Gezer, as descobertas feitas em Megido confirmam fortemente o relato bíblico do reino de Salomão.
Nos anos cinquenta, foram deitas escavações em Hazor, a Norte do lago da Galileia, dirigidas por Yigael Yadin. A camada que datava da época de Salomão revelou uma porta que, pelas suas dimensões, pela sua forma e pelo seu estilo, era praticamente idêntica à encontrada em Megido. Isto sugere, não só que foram construídas na mesma época, mas também que foram obra do mesmo arquitecto. Talvez elas sejam o testemunho de um plano arquitectónico ambicioso de Salomão para as suas cidades reais (ver 1ª Reis 9:15).
Esta questão intrigante tornou-se ainda mais importante quando Yadin examinou de perto as suas descobertas. As semelhanças entre as portas de Hazor e de Megido eram demasiado evidentes para serem ignoradas. Então, interrogou-se sobre a possibilidade de, nas escavações realizadas antes em Gezer – de modo bastante negligente – se terem enganado na identificação de uma porta do tempo de Salomão. As semelhanças notáveis entre Hazor e Megido pareciam confirmar realmente o relato de 1ª Reis 9:15. Nesse caso, poderia presumir-se que Gezer estava munida de uma porta semelhante…
Em Megido e Gezer foram descobertas
construções semelhantes.
Ao estudar os relatórios de Gezer, Yadin notou que se fazia menção de uma construção perto das muralhas, identificada por Macalister como uma fortaleza do tempo dos Macabeus, ou seja, por volta de 150 anos a.C..Ficou impressionado por constatar que uma parte deste edifício tinha exactamente a mesma forma que metade das portas de Megido e de Hazor. Além disso, os desenhos indicavam mais ou menos as mesmas dimensões. Nesse preciso momento, uma equipa americana estava ocupada a fazer escavações em Gezer. A pedido de Yadin, essa equipa aceitou deitar mão outra vez à “fortaleza macabeia”. Foi assim que a outra metade da porta foi descoberta… e preencheu todas as expectativas. Chegou-se à conclusão de que esta porta datava, realmente, do tempo de Salomão. O relato de 1ª Reis 9:15 era, portanto, exacto. As três cidades, Hazor, Megido e Gezer, tinham portas que datavam da época de Salomão, idênticas quanto à forma, à dimensão e ao processo de construção. A hipótese de um plano global de construção sugerido em 1ª Reis 9:15 confirmou-se.
Mas a história não acaba aqui. Em consequência das escavações feitas perto da porta de Hazor, Yadin notou que o muro de Salomão era de um estilo diferente do de Megido. Em vez de uma muralha com reforços salientes e reentrantes, descobriu uma muralha com casamatas. Este tipo de muralha consiste em dois muros paralelos, relativamente estreitos, distantes um do outro mais ou menos 3 metros. De cinco em cinco ou de oito em oito metros, os dois muros são ligados por muretes de junção, formando assim salas isoladas, que podem ser usadas como depósito ou até como habitação. Em tempo de guerra, a muralha podia ser reforçada enchendo essas divisões com escombros.
Vista da porta de Salomão,
em Megido.
Ao analisar a semelhança entre as portas das três cidades, Yadin pensou que o mesmo deveria acontecer com as muralhas. Ter-se-iam enganado os arqueólogos em Megido? Já tinham cometido outros erros… Onde é que devia ser procurada a muralha do tempo de Salomão em Gezer? Yadin estudou de novo os relatórios sobre Gezer e descobriu uma estrutura em casamatas que, segundo os pesquisadores americanos, estava ligada à porta de Salomão. Concluiu-se daí que tanto Hazor como Gezer tinham portas com um sistema de quatro portões internos bem como muralhas em casamata, enquanto que Megido tinha um outro tipo de muro, embora a porta fosse idêntica. Yadin estava cada vez mais convencido de que os arqueólogos tinham cometido erros a respeito de Megido. Depois de terminar os seus trabalhos em Hazor, começou novas escavações em Megido. Mandou limpar o muro com os reforços salientes e reentrantes, a fim de verificar se não haveria casamatas debaixo dos escombros. As suas escavações em Hazor tinham demonstrado que, na época do rei Acab, tinha sido construído um muro maciço com reforços sobre a muralha em casamatas. Teriam feito a mesma coisa em Megido? Com efeito, quando a limpeza terminou, apareceu um muro em casamatas, idêntico aos de Hazor e de Gezer. O estudo das cerâmica encontrada no lugar confirmou a hipótese de Yadin, esta muralha em casamatas datava da época de Salomão, enquanto que o muro maciço com reforços reentrantes e salientes tinha sido construído um século mais tarde, no reinado de Acab.
Assim terminava uma grande aventura arqueológica. A sugestão feita em 1ª Reis 9:15, segundo a qual as construções de Hazor, Megido e Gezer faziam parte de um imenso plano arquitectónico do rei Salomão, foi confirmada de modo notável. As evidências são tais que nenhum arqueólogo moderno duvida ainda da exactidão deste texto bíblico. Depois das escavações feitas em 1910, tudo parecia indicar o contrário, mas os trabalhas de Yadin provocaram uma reviravolta na situação.
Conclusão:
Grande número de pesquisadores confirma que os dados bíblicos relativos à unificação do reino são particularmente exactos. Não temos informações arqueológicas que contrariem esse relatos. Muito pelo contrário. Todas as descobertas vêm corroborar a exactidão das informações contidas neste capítulos da Bíblia.

17/11/2010

O REINO DIVIDIDO: A INVASÃO DE SISAQUE.

Infelizmente, dispomos de muito poucos dados arqueológicos concretos relativos à divisão de Israel em duas nações distintas, que ocorreu depois do reinado de Salomão. No entanto, é de salientar a existência de dois estilos diferentes de olaria, no Norte e no Sul do território inicial. Do mesmo modo, desenvolveram-se dois dialectos diferentes, provenientes do hebraico, revelando a separação social e política.
No entanto, a arqueologia confirma apenas as grandes linhas dessa cisão. Não disponde de uma descoberta arqueológica de vulto neste aspecto, dependemos de um grande número de pequenas descobertas que nos dão informações sobres essa época.
No quinto ano do rei Roboão, filho de Salomão, Sisaque, rei do Egipto, invadiu o reino de Judá. Destruiu um certo número de cidades e levou os tesouros do templo (1ª Reis 14:25,26; 2ª Crónicas 12:4). Segundo os arqueólogos, a destruição dessas cidades bíblicas teve lugar por volta do fim do século X a.C. Este período tornou-se um ponto de referencia importante para o estudo das descobertas arqueológicas, de tal maneira são numerosos os vestígios de destruição no conjunto do território de Judá.
Óstraca de Laquis IV
Biblical Archaeology Review,
1984, N. 2, p. 75
Depois da partida de Sisaque, Roboão parece ter fortificado bastante o seu reino. Embora a Bíblia mencione de passagem essa campanha de reconstrução, abundam os dados arqueológicos nesse sentido. Tudo leva a crer que Roboão reconstruiu Laquis de modo magistral. Era uma das cidades mais importantes a sudoeste de Jerusalém. Um grande edifício, semelhante a um palácio, foi construído sobre uma imponente plataforma no centro da cidade. ainda hoje, esta construção é o elemento mais notável deste lugar. Os pesquisadores pensam que se trata do palácio de Roboão, quando ele ia para fora de Jerusalém. Dado que as cidades reais de Hazor, Megido e de Gezer, construídas por Salomão, pertenciam todas a Jeroboão, que reinava sobre o reino do norte, Roboão transformou Laquis na segunda cidade real de Judá. Foram edificadas fortificações impressionantes, entre as quais uma dupla muralha, destinada, provavelmente, a proteger a cidade contra um novo ataque dos egípcios. Com efeito, Laquis estava situada perto da fronteira ocidental do território habitado de Judá. As planícies, situadas um pouco mais a oeste, eram ocupadas pelos filisteus, que se aliavam muitas vezes aos egípcios.
Jeroboão.
Quando Jeroboão se separou da casa de David, com as dez tribos do Norte, teve que ter em conta os adoradores fiéis que continuavam a ir ao templo, em Jerusalém. Eles levavam consigo animais e mercadorias destinados aos sacrifícios, debilitando assim a economia do seu reino em proveito do reino de Judá. Por isso, mandou construir dois templos nas duas extremidades do seu reino: um em Betel, perto de Jerusalém, para acolher os peregrinos que se dirigiam para o templo de Jerusalém, e o outro em Dã, no extremo Norte do país, onde existia já um lugar sagrado (Juízes 18).
No entanto, as escavações feitas em Betel não permitiram encontrar o templo. Mas, em Dã, a expedição israelo-americana descobriu os vestígios do que foi provavelmente um santuário. Na Antiguidade, os visitantes penetravam na cidade de Dã por uma grande porta e atravessavam uma ampla praça onde se erguia uma espécie de pódio sobre o qual o rei ou juiz podiam presidir. Seguindo um caminho monumental, pavimentado com grandes pedras planas (é uma das grandes construções do tempo dos reis de Israel mais bem conservadas entre as encontradas até agora), eles atingiam finalmente o centro da cidade. Em avenida atravessava a cidade de lado a lado e levava igualmente ao recinto do templo. O pátio do templo também era pavimentado com pedras cuidadosamente talhadas. Uma grande escadaria conduzia a um promontório realizado graças a um trabalho de construção notável. Os arqueólogos não descobriram nada sobre esta elevação, embora um templo ou um santuário tivessem provavelmente ocupado esse lugar naquele tempo. Alguns arqueólogos pensam que terá sido um grande altar destinado a sacrifícios em massa. A Bíblia chama a esse altar um “lugar alto”. Seja como for, não resta qualquer dúvida de que foi um lugar sagrado mandado construir por Jeroboão e que a Bíblia menciona em 1ª Reis 12:29. (PARA ENTRAR NO TEMA QUE DÁ SEGUIMENTO A ESTE - CLICAR)