17/12/2010

O CULTO DE BAAL

Estatueta em bronze de
Baal, o deus das tempestades.
A vida urbana apresentava um inconveniente importante para os israelitas. À medida que a população das cidades aumentava, estas pareciam-se cada vez mais com as dos cananeus. Os habitantes tinham cada vez mais tendências a assimilar elementos da cultura cananeia, incluindo elementos religiosos. Os israelitas não tinham uma cultura nem uma tradição citadinas. Nada mais normal, portanto, do que imitar os cananeus. A prosperidade relativa deste últimos ainda tornava mais atraente o seu modo de vida.
Graças à descoberta espectacular de centenas de placas de argila em Ugarit, na Síria, estamos agora em condições de descrever com exactidão a religião cananeia. O pai de todas as divindades era El. A raiz “El”, que encontramos em muitos nomes hebraicos, era um patronímico divino muito espalhado no Próximo Oriente. Por vezes, esse nome era confundido com o de outra divindade importante nalgumas regiões: “baal” (= senhor).
Com a sua mulher, Ashera, El criou tudo, incluindo o panteão dos deuses. Alguns dos deuses mais célebres foram Dagon (venerado pelos filisteus), Anate (a deusa do amor e da guerra), Yam (o deus do mar) e Kothar –Wahasis (o deus dos artesãos). Mas Hadade, ou Baal, o deus das tempestades, era, realmente, o mais poderoso e o mais célebre.
Pequeno altar utilizado pelos
cananeus para todo o
tipo de rituais
religiosos
Baal era representado com um raio na mão e era louvado pela vida que proporcionava sob a forma de chuva. Considerado como o deus mais útil ao homem, não é de estranhar que fosse adorado em toda a terra de Canaã. É muito conhecido o relato da luta cósmica que Baal venceu contra o seu irmão Yam, seu inimigo figadal. Se Yam tivesse vencido, a água e a chuva teriam desaparecido da face da Terra e a humanidade teria morrido. Baal também lutou contra o seu irmão Mot, o deus da morte. Desta vez, Baal foi vencido, mas, em consequência da intercessão de Anate, Mot foi morto e Baal ressuscitado. Todos os anos, a morte e a ressurreição de Baal era repetidas simbolicamente. No Médio Oriente, a passagem da estação seca para a estação das chuvas era explicada como sendo a morte e a ressurreição do deus das tempestades. Cada tempestade era uma ocasião para festejar a vitória de Baal.
Uma divindade para uma comunidade agrícola.
À medida que o tempo passava, os israelitas, que se interessavam cada vez mais pelo ciclo agrário, deram-se conta de que dependiam muito da chuva. Este interesse crescente pala agricultura e a sua tendência a instalarem-se nas cidades aumentaram a sua atracção pelo culto de Baal. Qualquer pessoa que leia o livro de Juízes descobre o quanto os israelitas hesitaram entre Deus e Baal. O culto de Baal representava, realmente, uma enorme tentação para eles.
Estatueta da deusa
Ashera, ou Astarte
Várias vezes Deus aproveitou acontecimentos como epidemias, fomes ou guerras para tentar trazê-los de volta ao caminho certo. No tempo de Elias, a fome que durou três anos faz mais sentido, se soubermos que Baal era o deus da chuva (1ª Reis 17,18). Se Baal, o deus venerado pela maior parte dos israelitas da época, era o deus da chuva, então como é que ele podia permitir uma seca tão terrível? No momento em que o conflito atingiu o seu apogeu, no monte Carmelo, foi o Deus de Elias que deu a chuva e Baal foi desmascarado como um ídolo vulgar.
Os textos de Ugarit também esclareciam a história de Gideão, que recebeu ordem de Deus para destruir os Baals e as Asheras do seu pai. Os Baals eram, provavelmente, estátuas que se podiam encontrar nos campos, as Asheras eram símbolos esculpidos em madeira que representavam esta deusa. Ashera era a mãe de todos os deuses, deusa da fertilidade e patrona dos homens e dos animais. Quando se fizeram as escavações na Palestina, foram encontradas centenas de estatuetas de Ashera, datadas de todas as épocas. Isso mostra o lugar importante que esta deusa ocupava na vida das pessoas. Era sempre representada nua, e os seus atributos sexuais desmedidos acentuavam o seu poder de fertilidade.
Entre a Fidelidade e a Idolatria.
Altar com quatro chifres. Em
Megido, foi encontrado um
altar semelhante, mas os quatro
chifres tinham sido quebrados.
Em certas épocas, os israelitas serviram Baal e noutras permaneceram fiéis a Deus. A arqueologia encontrou vestígios desses períodos de fidelidade. Perto de Megido, junto ao monte Carmelo, a noroeste de Jerusalém, foram encontrados altares de incenso. Nos quatro cantos, os chifres tinham sido arrancados.
Podemos imaginar facilmente como os israelitas, depois da sua vitória em Megido (o grande faraó Tutmosis II não tinha conseguido vencê-la) demoliram todos os objectos relacionados com o culto idólatra.
Isso é ainda mais evidente perto de Hazor, no extremo norte do país. Jabim, rei de Hazor, dirigiu uma coligação de cidades cananeias que declararam guerra a Israel no tempo de Débora, a única mulher juiz em Israel. Sob a direcção de Baraque, os israelitas combateram os cananeus perto de Megido. O texto bíblico indica que Deus enviou uma chuva abundante. Os carros de guerra cananeus atolaram-se e os israelitas obtiveram a vitória.
Pela mesma época, Hazor, a maior cidade da Palestina, foi destruída. A vasta cidade baixa nunca mais foi habitada, e quando Hazor foi reconstruída no tempo de Salomão, ocupava apenas a vigésima parte da sua superfície inicial
Em cima: Hazor, vista geral das
escavações.
Em baixo: Estelas usadas no culto,
encontradas num santuário
em Hazor.
Quando foram feitas as escavações em Hazor, foram descobertos templos e santuários. O maior e mais belo de todos eles era feito em pedras basálticas cuidadosamente trabalhadas. De todas as pedras utilizadas na Palestina, estas eram as mais difíceis de talhar. Mas o acabamento era extraordinário! Todos os elementos encontrados neste lugar levaram à conclusão de que se tratava de um templo de Baal. No jardim situado no exterior do templo, os arqueólogos descobriam um poço cavado pelos vencedores, no qual tinha sido lançado uma grande estátua de um leão. Seria esta estátua chocante para os vencedores, que assim se livraram dela? Ter-se-á produzido aquele evento no quadro das reformas feitas após a batalha de Megido? É o que pensam muitos arqueólogos.
Na cidade de Laquis, a sudoeste de Jerusalém um templo foi destruído da mesma maneira e na mesma época. Tratava-se de um templo extremamente vulnerável, já que tinha sido construído fora da cidade, como se já não houvesse espaço suficiente no interior das muralhas.
Poderíamos ainda fornecer outros exemplos, mas a imagem global é clara. Na segunda fase da conquista, quando os israelitas se instalaram definitivamente, numerosas cidades da Palestina foram destruídas. Não está excluída a possibilidade de algumas destruições terem outras causas, mas é mais do que provável que um bom número dentre elas deva ser atribuído aos israelitas que invadiram o país.

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