19/01/2011

A ALIANÇA NO SINAI

Monte do Sinai, lugar onde
Deus se encontrou com
Moisés.
O Êxodo menciona muitas alianças, mas refere-se geralmente, de modo direto ou indireto, àquela que foi concluída no Sinai. Ela encontra-se no centro de numerosas passagens proféticas. Durante muito tempo, soubemos muito pouco sobre a natureza das alianças de Israel. Graças às escavações realizadas em território hitita, estamos agora em condições de situar a aliança do Sinai no seu contexto histórico. A fiabilidade da Bíblia é reforçada desse modo. A forma da aliança do Sinai corresponde perfeitamente às alianças que eram feitas na época de Moisés, mas difere radicalmente das alianças mais tardias.
Em todas as alianças feitas no Médio Oriente, em meados do segundo milénio, encontramos seis particularidades que se encontram igualmente na aliança bíblica do Sinai.
Existe, primeiramente, um preâmbulo que menciona os nomes das partes implicadas. Em cada caso, os nomes do monarca ou do regente são indicados. Por vezes, o nome do vassalo é omitido. O preâmbulo bíblico encontra-se em Êxodo 20:2: “Eu sou o Senhor teu Deus.” O nome de Israel, o vassalo, não é mencionado.
Depois do preâmbulo, segue-se o prólogo histórico, citando as razões que motivam a aliança. Nas alianças seculares, encontramos, muitas vezes, longas enumerações. Na aliança do Sinai, o prólogo é bastante conciso: “que te tirei da terra do Egitp, da casa da servidão” (Êxodo 20:2). O poder que Deus tinha manifestado no momento do Êxodo servia de base à Sua relação com Israel, como soberano.
Vêm em seguida os preconceitos que o soberano preserve ao seu vassalo a fim de se assegurar da sua fidelidade. Nas alianças não bíblicas, trata-se de precauções que devem impedir o vassalo de fazer outras alianças, que poderiam ser prejudiciais para o soberano. Os Dez Mandamentos de Êxodo 20:3-17 são, visivelmente, as cláusulas da aliança do Sinai. É de salientar que o primeiro mandamento aborda o mesmo problema que as alianças não bíblicas, a saber, a fidelidade ao Senhor: “Não terás outros deuses diante de Mim.”
Vesão egícia duma alinça entre Ramsés II
e um rei hitita (fim do século 13 a.C.).
O quarto aspeto relaciona-se com o lugar onde a aliança deve ser conservada, assim como as orientações para uma leitura pública regular. O soberano quer ter a certeza de que o vassalo não esquece o conteúdo da aliança. Segundo Êxodo 25:16, os Dez Mandamentos, o coração da aliança, deviam ser conservados na arca Ada aliança. O livro do Êxodo não fala de um preceito regulando a leitura pública; mas Deuteronómio 31:9-13 menciona essa diretiva. Sabemos, além disso, que as leituras públicas tiveram lugar em várias ocasiões.
O papiro Nash, que contém
fragmentos importantes
dos Dez Mandamentos.
Uma aliança era acompanhada por uma lista de testemunhas. Nos exemplos não bíblicos, as testemunhas eram sempre divindades, as do soberano e as do vassalo. Os deuses deviam punir o vassalo se este não respeitasse as cláusulas da aliança. Êxodo 20 não faz qualquer referência a testemunhas. Neste caso, Deus é o soberano; isso não deveria, portanto, espantar-nos. Profundamente monoteístas, os israelitas não desejavam apelar para uma lista de deuses, como faziam as nações vizinhas. Por vezes, os profetas mencionavam testemunhas cósmicas, como “o céu e a terra”, ou “as nações e as regiões litorais”. No entanto, as verdadeiras testemunhas era o próprio Deus (que, mais tarde, testemunhariam muitas vezes contra as más ações de Israel) e o povo que, em Êxodo 24:3, tinha prometido “fazer tudo que o Senhor tinha dito”. Testemunhavam contra si próprios de que tinham recebido os preceitos destinados a conduzi-los no caminho do bem-estar segundo o projeto de Deus. Podiam testemunhar de que tinham ouvido e compreendido os Dez Mandamentos, a essência da aliança.
O último elemento presente nas alianças da Antiguidade é uma série de bênçãos e de maldições. Geralmente, a lista de maldições era mais longa do que a das bênçãos. Em Êxodo 20 não encontramos nem bênçãos nem maldições; só o segundo mandamento parece ir neste sentido. Deus é aí apresentado como sendo um Deus exclusivo, que recompensa a obediência e pede contas em caso de desobediência. Mas, noutros lugares da Bíblia, como em Levíticos
A Lei/Aliança e a Arca.

26 e Deuteronómio 28, encontramos essas listas de bênçãos e de maldições. No centro do discurso encontra-se sempre o Decálogo (os Dez Mandamentos). A obediência a essas leis determina os resultados.
Comparando a aliança do Sinai com as alianças não bíblicas dos povos que viviam no tempo de Moisés, surgem semelhanças evidentes. É perfeitamente claro que estamos em presença de um documento histórico. A estrutura da aliança do Sinai salienta a importância do Decálogo, já que este é o seu centro. Poucos arqueólogos contemporâneos põem isso em dúvida.

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