19/12/2009

JERICÓ

Heb. Yerichô, “cidade do (deus) lua”, ou “lugar da fragrância”; Gr. Iericho.
Uma cidade importante no vale do Jordão, por vezes apelidada de “a cidade das palmeiras” (Dt 34:3; Jz 1:16; Jz 3:13; 2Cr 28:15). Localiza-se cerca de 8 km a oeste do rio, cerca de 13 km a norte do Mar Morto e 24 km a nordeste de Jerusalém em linha recta, na base das montanhas da Judeia, na zona mais alta do Vale do Jordão. Situa-se 250 metros abaixo do nível do mar mas a 140 metros acima do leito do rio. Possui um clima quase tropical. Por isso crescem ali palmeiras e actualmente também bananeiras.
Embora as escavações efectuadas mostrem que Jericó é uma das mais antigas cidades do mundo, não é mencionada em nenhum registo antigo, para além da Bíblia. Quando os israelitas invadiram Canaan, Jericó, que se situava na principal estrada que ligava o Este ao Oeste, foi o seu primeiro obstáculo na invasão da Palestina Ocidental. Uma vez que foi a primeira cidade a ser conquistada na Terra Prometida, Josué declarou que os seus tesouros seriam dedicados a Deus como oferta (Js 6:17-19). A história da sua queda é bem conhecida. Foram enviados homens para espiar a terra. Raabe mostrou-se hospitaleira para com eles, protegendo-os e ajudando-os a escapar quando foram perseguidos pelos habitantes de Jericó. Como recompensa por tê-los ajudado e também pela sua fé no Deus dos israelitas, os espiões prometeram salvar-lhe a vida e os bens, uma promessa que foi fielmente cumprida (Js 2:1-22, Js 6:22, 23, 25). Depois que os israelitas atravessaram o Jordão, acamparam em Gilgal, perto de Jericó (Js 5:10) e marcharam à volta da cidade uma vez por dia durante seis dias. No sétimo dia marcharam à volta da cidade sete vezes e depois, ao sinal das trombetas, gritaram.

Nesse momento, os muros da fronteira ruíram (Js 6:8-21). Os israelitas entraram na cidade, destruíram os seus habitantes, com excepção de Raabe e da sua família e queimaram tudo, excepto determinados objectos que seriam usados no santuário (Js 6:1-21, 24). Josué, então, pronunciou uma maldição sobre todo aquele que tentasse reconstruir Jericó no futuro (Js 6:26).
Embora a cidade, como tal, não fosse reconstruída até aos dias de Acabe, houve quem morasse nas suas proximidades, pois o nome continuou a ser usado (ver 2Sm 10:5). Na divisão do país, Jericó encontrava-se na fronteira entre Efraim e Benjamim, tendo sido atribuída a Benjamim (Js 16:1, 7; Js 18:12, 21). Eglom, o rei de Moabe, oprimiu os israelitas no início do período dos juízes e tomou Jericó para si (Jz 3:13). Os mensageiros de David, ao voltarem do encontro com o rei amonita, que os insultou, rapando-lhes metade das suas barbas, permaneceram em Jericó até estas voltarem a crescer (2Sm 10:5; 1Cr 19:5). No tempo de Elias, Hiel reconstruiu a cidade e, de acordo com a maldição pronunciada por Josué, perdeu dois dos seus filhos (1Rs 16:34). Ainda no tempo do profeta Elias, viveu em Jericó uma comunidade de profetas (2Rs 2:4, 5, 15, 18) e mais tarde, Eliseu sarou a fonte das águas ali existente (2Rs 2:19-22). Um século mais tarde, Jericó foi o cenário da libertação de cativos de Judá, capturados pelo exército do rei Peca, de Israel (2Cr 28:15). Nos últimos dias do reino de Judá, o exército babilónico capturou Zedequias nas proximidades de Jericó (2Rs 25:5; Jr 39:5; Jr 52:8). A população de Judá deve também ter sido levada cativa porque 345 descendentes dos seus antigos habitantes voltaram do exílio babilónico com Zorobabel (Ed 2:34; Ne 7:36). Algumas pessoas de Jericó ajudaram Neemias a reconstruir o muro de Jerusalém (Ne 3:2).
Jericó volta a ser mencionada no período dos macabeus, quando Baquides, o general sírio, recuperou as suas fortificações (I Mac 9:49, 50). António deu a cidade a Cleópatra como estância de Verão. Quando Herodes, o Grande, mais tarde a recebeu como presente de Augusto, embelezou-a, construiu lá um palácio e erigiu uma fortaleza por trás da cidade chamada Cypros. Herodes, o Grande, morreu em Jericó.
Jesus passou pela Jericó do NT (Lc 19:1), que se situava a Sul e a Este da cidade do VT, à entrada do Wâdi Qelt, pelo qual passava a estrada que se dirigia a Jerusalém. Jericó era a cidade natal de Zaqueu, de cuja hospitalidade Jesus gozou e cuja conversa se encontra registada nos vers. 1-10. Foi perto da Jericó do NT que Jesus curou o cego Bartimeu e o seu companheiro (Mt 20:29-34; Mc 10:46-52; Lc 18:35-43). A actual cidade de Jericó, chamada Erîkha, foi fundada no tempo das cruzadas e situa-se a este da Jericó do NT e a sudeste da Jericó do VT.
Por causa da sua grande importância bíblica e histórica, Jericó tem recebido a atenção de várias expedições arqueológicas. A cidade do VT tem sido identificada com Tell es-Sultân, na extremidade norte da actual Jericó. Em 1868, Charles Warren realizou algumas explorações preliminares que não aumentaram materialmente o nosso conhecimento sobre a história antiga da cidade. Entre 1907 e 1909, Ernest Sellin e Carl Watzinger escavaram partes do monte mas viram as suas ruínas confundidas e perturbadas por construções posteriores e pela erosão. Uma vez que a arqueologia palestiniana ainda se encontrava no seu início, as conclusões destes eruditos foram insatisfatórias e mais tarde tiveram que ser revistas, quando algumas explorações levadas a cabo noutros locais mostraram que as suas interpretações de determinadas provas não poderiam ser mantidas. John Garstang que realizou algumas escavações em Jericó durante seis épocas, entre 1930 e 1936, descobriu um cemitério do final da Idade do Bronze, o local onde eram sepultados os habitantes de Jericó até 1350 AC, tal como indicam as inscrições de determinados selos egípcios. O que restou das fortificações da cidade era tão confuso, que algumas muralhas foram mal identificadas, tal como mostram escavações posteriores.
A interpretação que Garstang faz da história arqueológica da cidade está agora desactualizada e não necessita de ser repetida aqui. Entre 1952 e 1957, Kathleen M. Kenyon realizou escavações em Jericó, usando os últimos métodos científicos. Descobriu outro cemitério, túmulos de meados da Idade do Bronze, incluindo equipamento funerário, tais como mesas de madeira, bancos e pratos, víveres em vasilhas, roupas, cestos, etc., tudo espantosamente preservado, devido à infiltração de gases letais que mataram os germes, evitando, assim, a desintegração daquele material antigo que, de outro modo, nunca se preservaria na Palestina. As escavações realizadas no próprio local puseram a descoberto níveis de ocupação de tempos primordiais. Mostraram que Jericó já era uma cidade muito antes de existir qualquer tipo de cerâmica. Na realidade, parece que as muralhas da cidade e as suas torres são as mais antigas alguma vez descobertas no Próximo Oriente. A cidade foi destruída várias vezes, tendo sido posto a descoberto o que restou de sete muralhas sucessivas do início da Idade do Bronze (3º milénio AC). A última destas muralhas foi destruída por um tremor de terra. Nessa altura, a “cidade” tinha cerca de 230 metros de extensão e não mais de 76 metros de largura. Em meados da Idade do Bronze, o período Hiksos, foi alargada para uma extensão de cerca de 260 metros e uma largura de cerca de 130 metros, sendo rodeada por uma grande muralha de pedra com uma ribanceira levemente escarpada. Esta cidade foi destruída por um dos reis egípcios da 18ª dinastia no século XV AC. Nada foi encontrado das muralhas do final da Idade do Bronze. Estas muralhas terão sido as que foram destruídas no tempo de Josué. Infelizmente, as forças do homem e da natureza parecem ter desnudado os níveis superiores do monte numa tal extensão, que praticamente nada restou deles. As escavações de Kenyon puseram a descoberto somente uma pequena parte da cidade, uma porção superficial que datava da Jericó de Josué. No sopé da encosta, algumas das últimas estruturas construídas em Jericó (na Idade do Ferro, por volta de 1200 AC) foram postas a descoberto.
Embora os resultados das escavações tenham tido bastante interesse para os arqueólogos e tenham lançado alguma luz sobre a história e sobre os primórdios desta importante cidade, pouco contribuíram com algo de interessante para o estudante da Bíblia. Contudo, os cemitérios de Jericó mostraram que, como locais de sepultamento, deixaram de ser usados no século XIV, o que poderá ser considerado como prova de que a cidade não poderia ter sido destruída muito depois desse período.
Uma porção da Jericó do NT, nomeadamente Tulûl Abu el-‘Alâyiq, foi escavada entre 1951 e 1952 pela Escola Americana de Investigação Oriental de Jerusalém, sob a direcção de J. L. Kelso e J. B. Pritchard e novamente por E. Netzer da Universidade Hebraica de Jerusalém, entre 1972 e 1974. As escavações puseram a descoberto partes do magnífico palácio de inverno de Herodes, que tinha uma fachada de 100 metros de extensão e uma piscina, provavelmente a mesma em que Herodes mandou que afogassem o seu cunhado Aristóbulo III, o sumo sacerdote.

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