11/10/2010

O EXÍLIO BABILÓNICO

Prelúdio.
As medidas tomadas por Ezequias, na previsão de uma eventual invasão assíria, foram um sucesso. Jerusalém não caiu nas mãos dos Assírios. No entanto, nas suas narrativas de guerra, Senaqueribe indica, em tom de triunfo, que Jerusalém teve de pagar pesados tributos. Laquis, a segunda cidade de Judá, foi completamente destruída. Isso é evidente no relato escrito pelo próprio Senaqueribe e nas escavações feitas em Laquis. Senaqueribe chegou mesmo a mandar gravar a recordação da derrota da cidade numa placa comemorativa. Nessa placa vêem-se os defensores colocados sobre as muralhas, enquanto o invencível exército assírio está prestes de alcançar a vitória. Numerosos refugiados deixam a cidade que está a arder. Temos a sensação de que o rei da Assíria se sentia orgulhoso do seu feito. A maior parte das outras cidades de Judá parece terem sido parcial ou totalmente destruídas nessa mesma época.
Cerco e tomada de Laquis pelo exército
assírio de Senaqueribe.
Jerusalém aguentou-se. Na verdade, o reino de Judá tinha ficado reduzido praticamente a uma cidade-estado. Mas no reinado de Josias, na segunda metade do 7º século a.C., o poder assírio enfraqueceu e Judá voltou a ser uma grande nação florescente. Os relatórios das expedições arqueológicas mencionam a reconstrução das fortificações nas fronteiras e a presença de celeiros destinados a proteger e a conservar os produtos comerciais. Foi um período de paz e de prosperidade, justificando os elogios feitos ao rei Josias que podemos ler na Bíblia.
Pedaço de uma placa de barro
encontrado perto de Mesad
Hahavyahou, que relata uma queixa
de um trabalhador contra o seu patrão.
Pela primeira vez, Judá parecia exercer o seu poder sobre uma parte das regiões marítimas habitadas pelos Filisteus. Perto de Mesad Hashavyahou, foi encontrado um importante pedaço de uma placa de barro. Um trabalhador queixa-se do seu patrão, que parece ter transgredido uma das leis mosaicas sobre o empréstimo de bens. A nota era provavelmente dirigida ao juiz local e fazia parte das provas de acusação. O facto de que um trabalhador pudesse levantar um processo jurídico contra o seu patrão, no quadro de um artigo da lei mosaica, mostra a forma séria coo a reforma de Josias tinha sido aplicada em todo o país. Noutras épocas, a corrupção era tal que o patrão teria facilmente podido parar todo o processo com uma pequena quantia em dinheiro. Mais ainda, um trabalhador nunca teria ousado apresentar queixa junto de um juiz.
Parece que Josias também conquistou para Judá a maior parte das regiões a norte e reunido temporariamente as duas partes do reino. Assim se compreende a razão pela qual a Bíblia compara Josias ao rei David. Josias morreu numa batalha contra os egípcios, em Meguido.
O profeta Jeremias.
Inscrição em hebraico numa
sepultura em Silwan.
O ministério profético de Jeremias começou no reinado de Josias. Depois da morte desse rei reformador, as coisas precipitaram-se para o profeta. Sob os sucessores de Josias, as antigas corrupções voltaram a aparecer a minaram a sociedade. Jeremias anunciou a queda e a destruição de Jerusalém, mas o povo não quis saber, considerando-o um renegado. Não tinha Deus salvo a cidade e o templo, de modo milagroso, na época de Ezequias e de Isaías? O povo acreditava firmemente numa nova intervenção divina. Assim se compreende por que razão as palavras de Jeremias o tornaram tão impopular junto das autoridades e dos responsáveis religiosos.
Ornamento em
Ramat Rahel
Uma das principais injustiças denunciadas por Jeremias era a desigualdade entre ricos e pobres. Embora a nação tivesse sido fundada sobre o princípio da igualdade para todos, os pobres eram oprimidos pelos ricos. Os túmulos descobertos em Silwan, um bairro de Jerusalém, dão testemunho disso. As sepulturas dos ricos atestam um luxo evidente, enquanto que os pobres não podiam ter senão uma simples tumba.

O profeta repreendeu os reis de Judá, porque não faziam nada para ajudar as pessoas do povo que viviam em condições difíceis. Este fosso entre os monarcas e os seus súbditos é confirmado pelas descobertas feitas em Ramat Rahel, a sul de Jerusalém. Foram trazidas à luz ruínas de um edifício que tinha as características de um palácio, tanto pelo seu estilo como pelo seu luxo. Além disso, este tipo de arquitectura só se encontra nas construções reais. Podemos deduzir de tudo isso que este palácio situado fora da cidade servia de residência aos monarcas que já não suportavam viver com o povo. Claro que não se pode criticar o rei por procurar a tranquilidade. Mas é evidente que uma residência assim, situada longe da realidade diária, não favorecia nada o seu interesse pelas necessidades dos seus súbditos.
Outras decorações que fizeram
parte de um palácio.
Uma outra curiosidade descoberta em Ramat Rahel é um conjunto de capitéis esculpidos em forma de flor de lótus. Esses capitéis proto-eólicos só se encontram na Palestina e apenas em lugares onde os reis passavam uma boa parte do seu tempo. O luxo da real Ramat Rahel ia provavelmente de mãos dadas com um empobrecimento espiritual da casa de David. Pouco tempo depois, Judá desapareceu como nação. Jeremias tinha, portanto, boas razões para anunciar as suas mensagens proféticas de advertência.

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