Ciro o Grande |
Nas suas descrições proféticas, Daniel utiliza imagens de animais bastante estranhos, realmente difíceis de entender para o leitor moderno. As pessoas que viviam na época da supremacia babilónica não tinham essas dificuldades de compreensão. Hoje, a arqueologia ajuda-nos a levantar alguns véus.
A célebre porta de Istar, encontrada em Babilónia, estava coberta de relevos que representavam animais estranhos e outras feras terríveis.
O objectivo era impressionar, quem sabe intimidar, o visitante desta grande cidade. a grandeza de Babilónia era visualizada, simbolicamente, por estas representações. São estes mesmos símbolos que encontramos nos sonhos e visões de Daniel. Nada de extraordinário, portanto, para um leitor familiarizado com a cultura babilónica. Na Antiguidade, as forças cósmicas eram muitas vezes representadas sob a forma de animais desse tipo.
Reconstrução do palácio de Nabucodonosor. As paredes com baixos-relevos de animais selvagens |
O conhecimento do meio histórico e geográfico no qual Daniel teve as suas visões ajuda-nos a compreender não só as cenas que evocam animais, mas também as que mencionam “os reis do Norte e do Sul”. Na realidade, ninguém se aproximou de Babilónia vindo de Este ou de Oeste. Os desertos e cumes montanhosos formavam uma barreira intransponível para os exércitos inimigos. Esses exércitos usavam sempre os vales a Sul e a Norte.
Tendo em conta a dimensão do livro de Daniel, podemos afirmar sem problema que dispomos de mais provas e de indícios arqueológicos relativos a ele do que a qualquer outro livro da Bíblia. E, no entanto, muitos duvidam da sua veracidade. Embora este livro apresente muito poucas semelhanças com outros livros da Bíblia (exceptuando o Apocalipse), é preciso saber que este tipo de literatura extra-bíblica foi encontrado em abundância. Dispomos de numerosos manuscritos medievais que contêm textos que datam da Antiguidade. Para o leitor moderno, esta literatura cheia de representações gráficas pode parecer estranha, mas não era assim para o leitor da época.
Cilindro no qual figura o decreto promulgado por Ciro, autorizava os judeus a voltarem a Jerusalém |
Voltaremos a mencionar as conquistas de Babilónia por Ciro, o Grande. Uma das razões pelas quais os babilónios aceitaram facilmente este monarca foi porque este adorava, entre outros, o seu deus Marduque. Sabemos que Ciro tolerava os deuses nacionais dos povos conquistados. Assim, as palavras de 2ª Crónicas 36:22,23, que afirmam que Ciro respeitava o Deus de Judá, bem como as profecias de Jeremias, estão confirmadas.
Quando Ciro promulgou o decreto que permitia aos judeus voltarem para Judá, a fim de reconstruírem a cidade de Jerusalém e o templo do seu Deus, muito poucos decidiram voltar. Durante os setenta anos passados em Babilónia, os deportados tinham construído uma vida desafogada e tinha esquecido a sua pátria. O enorme trabalho que os esperava para reconstruir Jerusalém e torná-la habitável assustava-os. Os judeus tinham acabado por constituir um grupo importante e próspero em Babilónia. Vários textos antigos mencionam um grupo importante de comerciantes judeus influentes. Encontramos a confirmação disso no livro de Ester. Não podemos avaliar a influência exercida por Ester na corte real, mas talvez fosse maior do que se poderia imaginar.
Uma parte do tesouro de Ciro. Terão algumas destas peças sido usadas por Ester? |
Também podemos perguntar-nos qual poderia ter sido a influência dos judeus monoteístas sobre o aparecimento da nova religião persa, conhecida sob o nome de zoroastrismo. Esta religião só conhecia duas divindades: a do bem e a do mal. Embora este dualismo não seja um verdadeiro monoteísmo, devemos salientar que esta crença de origem bastante vaga apresenta paralelos interessantes com a doutrina cristã que opõe Deus a Satanás.
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